Ler para crer

Em O Vício dos Livros, de Afonso Cruz, descobrimos, entre muitas coisas, que ler repele a morte, que ler afasta o fatalismo. O autor cita um estudo da Universidade de Yale que nos diz que quem lê cerca de 30 minutos por dia vive em média mais dois anos. Ganha sabedoria, explora a imaginação e ganha em vivacidade.

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E se todos soubéssemos ler? E se todos quiséssemos ler? E se todos? Ler.

No mais recente, e notável, O Vício dos Livros, de Afonso Cruz, descobrimos, entre muitas coisas, que ler repele a morte, que ler afasta o fatalismo. O autor cita um estudo da Universidade de Yale que nos diz que quem lê cerca de 30 minutos por dia vive em média mais dois anos. Ganha sabedoria, explora a imaginação e ganha em vivacidade.

Durante o confinamento houve polémica quando a venda de livros foi proibida. Sendo que no mesmo contexto, nas mesmas lojas, podiam ser comprados discos ou filmes. Atordoante. O acesso à cultura deve ser facilitado, sobretudo em tempos como estes. Em que precisamos tanto de uma casa para nos encontrar no meio do caos. Em que precisamos tanto de um livro-objecto para viajar para outros mundos. Em que precisamos tanto de uma história para viver o ser outro, outra personagem.

O mundo de hoje, confinado ou desconfinado, anda rapidamente, tão rapidamente que cria um zumzum barulhento atrás de si. E onde ficam as palavras que nos fazem reflectir? Qual o lugar das palavras na cognição? No despertar de novas ideias, na evolução?

Segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, em 2018, cada português compra pouco mais de um livro por ano e 40% lê apenas um livro. Estes números são baixos. E não é que no resto da Europa, do mundo, a tendência seja muito melhor. Os livros têm uma concorrência forte hoje em dia, os canais digitais, que apelam a mais sentidos, que nos voltam para o outro em vez de para si. Essa é a grande distinção: o digital leva-nos para o exterior, o livro para o interior.

No mesmo livro que citei ao início, falam-nos da importância da atenção na actividade de leitura. Uma atenção voltada para si, para o não saber, para o descobrir, o explorar. Com vontade, predisposição, espaço. Com tempo, curiosidade, paz. O que precisamos, mais do que isolar a ocasião de leitura numa bolha, é de trazê-la para o mundo real. Para o mundo exterior, os jardins, cafés, a praia, onde agora podemos estar. E talvez neste novo contexto, consigamos encontrar no livro-objecto um intervalo do ruído exterior, das notícias, dos números que sobem, e viver as palavras, cada uma, pelo caminho onde nos levam.

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