A tia Angela, o tio Marcelo e o herr Kosta

As palavras não passam de palavras e com elas nos entendemos e damo-nos a entender, como é o caso da nossa querida tia alemã.

A tia Angela, dentro do seu melhor estilo de tia-avó, aproveitou estar com a sua ex-ministra da Defesa (afastada por navegar em submarinos de águas profundas) e atualmente Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen para ralhar com Portugal. Deixou os ingleses entrarem para verem a final da Champions no Porto e para férias na Algarve, resmungou do alto do seu cadeirão.

A tia não achou bem que os súbditos da Majestade Isabel II tenham vindo ver a final, não esclarecendo se acharia o mesmo quanto à vinda de alemães, caso o Bayern de Munique fosse o finalista. De falta de variantes, percebe ela, é sempre mais do mesmo. Se o primeiro-ministro de Portugal lhe tivesse perguntado a opinião a música seria outra, mas como não pediu levou o ralhete que é para aprender. Ingleses no Porto sem a ouvir? Quem manda, sim, quem coordena?

Bem podem dizer que a verdade encerra muitos significados, inclusive alguns diferentes do que se pretende fazer crer. O ralhete vale o que vale, ou seja, valeu para Rio e Marcelo se apresentarem a jogo. O primeiro para aplaudir, apesar de ter clamado pela vinda dos ingleses para impedir o turismo de se afundar. O segundo, mais esperto, para agradar à poderosa tia, desculpabilizando-a e elogiando-a quanto à bazuca.

As palavras não passam de palavras e com elas nos entendemos e damo-nos a entender, como é o caso da nossa querida tia alemã.

Um queixume, um reparo, um desabafo do género, então o Herr Kosta deixa os ingleses entrarem no Porto e não dá satisfações? Ah, pois é, não pode ser. Um desabafo por falta de coordenação, disse ela. Em Munique, capital da Baviera, quem coordena é ela e ela é que sabe quem entra e quem sai e quem vai a Wembley para os oitavos do europeu. Pois. Só que outra coisa não tem feito António Costa, disse ele, passa a vida a coordenar com a tia e os outros, insistiu.

Com que então barrar os ingleses? Mas eles já se barraram à UE, pensou o nosso primeiro. Contava que Marcelo e Rio lhe tivessem mandado o recado a dizer que o mal pandémico estava em Lisboa, onde não se jogou a final da Champions, mas enganou-se e ficou intrigado quanto ao verdadeiro significado do queixume e do faz de conta de Marcelo e Rio que assobiaram como se o Porto fosse Lisboa, o que não é, veja-se o caso das entregas dos dados dos ativistas sociais às embaixadas, incluindo de Israel, que é raro aparecer mencionada.

Acontece em todas as famílias, quando uma tia-avó tem muito peso, ou lhe dou uma cadeira robusta ou aguentam o peso que ela tem. Ela não só tem um grande peso entre a família da UE, como também não ouve bem todos os familiares; ouve melhor os familiares mais próximos do enorme quintal alemão. A Inglaterra é uma ilha, esteve sempre contra a Alemanha, e tudo isto conta na sua cabecinha pensante.

 Na Alemanha não há grandes variantes, é, há muito tempo, mais do mesmo, die große Koalition.

A tia armou um grande sarrabulho na Lusitânia. Ela calculava que Rio e Cecília Meireles iriam mudar de opinião quanto à entrada de ingleses na pátria de Camões e acertou. O tio Marcelo não é por viver em Cascais, terra de tios e tias, mas porque não pode deixar passar nada sem pronúncia e entregou o nosso chanceler à tia chancelerina - também já criticámos a Alemanha, escondendo o sujeito capaz de uma coisa daquelas.

O tio Marcelo, apesar da tia se ir retirar em setembro, não fosse esquecer-se dele, veio a terreiro, através da chamada prova indireta, dizer aos portugueses, que já sabiam, que ela é quem manda desde o défice até à bazuca. Abençoada seja a tia e quem a apoia. Ingleses never, nimmer, jamais como disse o nosso Mário Lino, jamais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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