Mikkel Damsgaard e a nova dinamite da Dinamarca

O extremo da Sampdoria foi o primeiro jogador nascido no século XXI a marcar um golo no Euro 2020. Nórdicos defrontam neste sábado o País de Gales em Amesterdão.

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Mikkel Damsgaard, avançado da Dinamarca Reuters/WOLFGANG RATTAY

Christian Eriksen era para ser o comandante de uma Dinamarca que se apresentava no Euro 2020 candidata a repetir a surpresa de 1992. Mas aproximou-se perigosamente da tragédia quando, nos minutos finais da primeira parte do Finlândia-Dinamarca, caiu inanimado no relvado do Parkens Stadium de Copenhaga, deixando milhares de compatriotas seus e uma audiência global de centenas de milhões com a respiração suspensa. Eriksen esteve morto, disseram os médicos, voltou a respirar naquele mesmo relvado, enquanto os seus colegas o rodearam e lhe deram a privacidade nos largos minutos em que balançou entre mundos.

Não sabemos se alguma vez Eriksen irá voltar a jogar pela Dinamarca e com a camisola de qualquer outra equipa. E sem ele, a selecção parecia condenada a uma campanha sem glória no Euro. Mas a Dinamarca encontrou um suplemento de força anímica na memória do seu herói caído e, depois de duas derrotas seguidas (Finlândia e Bélgica), reapresentou-se no Euro como a selecção que joga e ganha por Eriksen. E como a selecção de Mikkel Damsgaard, o jovem extremo de 20 anos da Sampdoria que abriu a contagem da grande vitória por 4-1 sobre a Rússia. Um magnífico pontapé de fora da área com o pé direito lançou os dinamarqueses para os oitavos-de-final – o País de Gales, em Amesterdão, será o próximo adversário.

O remate de Damsgaard foi bem ao ângulo, fora do alcance das mãos do guarda-redes russo, depois de ter brincado com dois defesas adversários à entrada da área. Um momento de magia digno de Eriksen, cujo lugar no “onze” dinamarquês tinha sido ocupado pelo jovem da “Samp”. “Viram aquele golo? Digo-vos já, o preço dele subiu para 30 milhões de euros. Se marcar mais um, passa para os 40 milhões”, comentou Massimo Ferrero, presidente da Sampdoria, já a antecipar um negócio milionário perante o suposto interesse de “tubarões” como o Barcelona, o AC Milan ou o Tottenham.

Já o tínhamos visto a dar trabalho aos belgas, ele que, depois de ter ficado no banco no Finlândia-Dinamarca (e ter feito parte da parede humana entre Eriksen e as câmaras de televisão). Era apenas a sua quarta internacionalização A pela Dinamarca, mas enfrentou com descaramento uma das selecções favoritas neste Euro, como um destro a jogar na esquerda e a aparecer em espaços interiores, um multi-funções no ataque a criar oportunidades, a rematar e até a recuperar bolas. Os dinamarqueses estiveram a ganhar, perderam, mas Damsgaard ficou na equipa para o jogo seguinte. E vai continuar.

“Damsinho”

Não é por acaso que Mikkel Damsgaard afirmou na selecção dinamarquesa de forma tão natural. É que Kasper Hjulmand, o seleccionador, já o conhece bem desde a adolescência, sendo o responsável pela sua estreia sénior com apenas 17 anos na primeira equipa do Nordsjaelland. E foi também o responsável pela sua primeira alcunha no futebol, “Damsinho”, porque via algo de brasileiro nele. “Conheço-o desde miúdo. Já era assim e faz sempre isto. Perante um cenário deste, jogar assim, de igual para igual contra qualquer rival”, recordou Huljmand após o jogo com a Bélgica.

“Damsinho” fez o suficiente em três épocas no futebol dinamarquês para convencer a Sampdoria a pagar por ele cerca de sete milhões de euros. E teve uma temporada de estreia na Série A bastante aceitável, com dois golos e três assistências. No final de 2020, começou a ir à selecção A – já leva três golos em apenas cinco golos – e, com ele, a Dinamarca voltou a ser outra vez candidata a ser a tal surpresa, tal como foi o grupo excursionista que foi até ao fim no Euro 1992 – Schmeichel, Polvsen, Laudrup e companhia estavam de férias, foram chamados de emergência para substituir a Jugoslávia e ganharam à Alemanha na final de Gotemburgo.

Dessa equipa ficou a memória de um feito extraordinário e um cântico igualmente marcante, “We are red. We are white. We are danish dynamite”. Esse Europeu foi uma explosão de vermelho e branco, e esta versão de 2020 da dinamite dinamarquesa tem muito para gostar. A baliza tem o herdeiro genético de Peter Schmeichel, Kasper, a defesa é comandada por Simon Kjaer, central do Milan, o ataque está entregue a Poulsen, do Leipzig, e Braithwaite, do Barcelona. E seria Eriksen a acender o rastilho.

Foi “Damsinho” quem ficou com esse papel. E conseguiu. “Foi uma loucura termos passado. Esta equipa, estes jogadores… É fantástico fazer parte disto, é incrível ver estas pessoas ficarem loucas”, disse após o jogo com a Rússia. Depois do seu golo, veio o de Poulsen (2-0), o de Christensen (3-1) e o de Maehle (4-1), todos a levarem o Parken Stadium ao delírio total. E a adaptar o hino de 1992, em nome da unidade por um propósito: “We are red. We are white. We stand together side by side”.

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