Com arame e papel de seda, Luciano traz o São João na ponta dos dedos (todo o ano)

O local é Leça do Balio, no atelier Joaquim Pombal, onde trabalha actualmente, mas Luciano Britto tem por hábito construir os seus balões de fogo na mesa da sala, em Custóias, onde vive. Em 2017, o mestre baloeiro veio do Brasil para Portugal à boleia dos balões e da arte de ensinar uma tradição que no Rio de Janeiro se vive todo o ano. “A paixão começa na infância – os balões no Brasil são lançados o ano todo, mas principalmente no mês de Junho –, acho que por volta dos cinco anos já conseguia fazer alguns balões e, com a ajuda dos meus irmãos, lançá-los”, conta ao P3.

Formado em Educação Física e Desporto, área na qual trabalhou durante cerca de 15 anos, Luciano, de 44, recorda que, “por vocação e habilidade”, sempre esteve envolvido nas artes. “O balão desenvolve muito a criatividade, eu tenho por gosto os desenhos geométricos e também me inspiro muito no azulejo português”, revela o artesão que, tendo já trabalhado em diferentes oficinas, nunca teve formação artística. “Eu vejo as coisas, compro o material e faço”, torna a dizer de sorriso no rosto enquanto constrói um exemplar de cerca de 1,30 metros e decorado com martelos e manjericos.

Em Portugal, Luciano faz um esforço por se “adaptar à cultura local” e lançar balões apenas na altura do São João. Há dois anos sem festejar nas Fontainhas, no Porto, onde se sente “um verdadeiro portuense”, considera “um pouco deprimente ver tudo vazio”, mas afirma ter já construído 150 balões para oferecer a amigos. Na noite de 23 para 24 de Junho, diz querer ficar "pelo menos" com 20 para lançar com a família. Para o mestre baloeiro, a paixão pela arte é tão grande que escolhe não fazer dela fonte de rendimento – não vale a pena “estragar” o que faz por gosto.

Reunidos o papel de seda, a cola, o algodão, a parafina e o arame, são infinitas as formas e os padrões que podem nascer das mãos de Luciano. Entre duas horas e um ano, não há limites para a criação: “Balão para mim é amor e amor não se justifica, é amor e ponto final. E é isso que faz superar as dificuldades e o tempo que eu gasto nos balões.”

Texto editado por Ana Maria Henriques