Vacinação contra a covid-19 deverá ser aberta a maiores de 18 anos a 4 de Julho

Jovens com mais de 18 anos começam a ser vacinados a partir dessa data, disse vice-almirante Gouveia e Melo no Parlamento. Meta de vacinação de 70% da população em Agosto pode ser adiada 15 dias.

Foto
Vice-almirante Henrique Gouveia e Melo Rui Gaudêncio/Arquivo

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo revelou nesta quarta-feira que a partir de 4 de Julho vão começar a ser vacinadas as pessoas com mais de 18 anos. “Daqui a 15 dias, temos todas as faixas etárias em processo de vacinação”, garantiu, acrescentando que o processo tem sido “relativamente rápido” face à missão a cumprir. O coordenador da task force para a vacinação contra a covid-19 falava perante a Comissão Eventual para o Acompanhamento da Aplicação das Medidas de Resposta à Pandemia, numa audição a requerimento do PSD.

É a 4 de Julho que se estima que cerca de 40% das pessoas entre os 30 e os 39 anos terão uma dose da vacina tomada, o que permitirá abrir a vacinação para as pessoas entre os 18 e os 29 anos. Ou seja, a partir dessa data os centros de saúde começam a convocar os utentes dentro desta faixa etária sempre na mesma lógica aplicada até ao momento: dos mais velhos para os mais novos, explicou ao PÚBLICO fonte da task force da vacinação.

A possibilidade do auto agendamento irá acompanhar este processo, mas poderá só ficar disponível alguns dias depois da abertura da vacinação às pessoas entre os 18 e os 29 anos. Também aqui, o processo decorrerá por ordem decrescente de idades, tal como tem acontecido. Por exemplo, actualmente o auto agendamento está disponível para quem tem 35 ou mais anos, apesar da vacinação já estar aberta entre os 30 e os 39 anos e poderem existir centros de saúde já a convocar pessoas com menos idade.

Quando na audição foi questionado sobre a antecipação das faixas etárias e a necessidade de adequação da estratégia, o vice-almirante Gouveia e Melo esclareceu que, com o ritmo de vacinação actual, quando é atingido 40% de vacinação numa faixa passa-se para a faixa seguinte. A task force segue a regra de que as faixas mais velhas “começam primeiro, acabam primeiro e têm sempre a vacinação superior às faixas seguintes”.

Foi o que aconteceu com a faixa etária entre os 30 e os 39 anos, cuja vacinação abriu quando cerca de 40% de pessoas entre os 40 e os 49 anos já tinham com uma dose tomada. Mas a regra usada pela task force até à faixa etária dos 50-59 anos era a de avançar para o agendamento da seguinte quando 60% das pessoas tivesse uma dose da vacina.

O coordenador da task force apontou que a vacinação das pessoas com menos de 40 anos já não se prende com uma “razão de protecção”, mas sim com uma “questão epidemiológica”. Como tal, reconheceu que se fosse dada prioridade à vacinação dos estudantes, à luz do novo ano lectivo, as faixas mais velhas poderiam ficar desprotegidas. E comparou: “É como uma manta. Se puxarmos para a cabeça, descobre os pés; se puxarmos para os pés, descobre a cabeça.

Meta de 70% da população vacinada pode ser adiada

A meta de vacinar 70% da população com pelo menos uma dose até 8 de Agosto pode atrasar-se até 15 dias relativamente ao esperado, se continuar a existir uma redução das entregas previstas, disse Gouveia e Melo, no Parlamento.

“Eu direi que será nas primeiras três semanas de Agosto. Usaremos todos os stocks que temos para conseguir atingir essa meta até 8 de Agosto, mas eventualmente poderá ser mais tarde”, explicou, destacando ainda que não pode avançar com uma data exacta por não saber exactamente quantas vacinas vão chegar ao território nacional.

O objectivo passa, então, por “fazer uma vacinação uniforme” por todas as faixas etárias em todas as regiões do território nacional, uma estratégia que foi suspensa inicialmente pela necessidade de vacinar os grupos de risco. “Agora, estamos a reequilibrar as percentagens de vacinação”, garantiu, acrescentando que “o primeiro combate era proteger as pessoas mais frágeis”.

Foto

Quanto à operacionalização do plano, Gouveia e Melo garantiu que não se têm registado “faltas de recursos humanos”, nomeadamente porque “as autarquias estão a contribuir muito” para este que é um “esforço conjunto”. “Claro que existem preocupações no momento em que se aproximam as férias e os enfermeiros e médicos estão muito esgotados. No entanto, tenho promessas de que se fará tudo para manter e elevar o ritmo”, disse.

No Parlamento, o responsável destacou ainda que o país se encontra num momento de aceleração do processo de vacinação, com mais de 100 mil inoculações por dia de forma sistemática na última semana. O ritmo de vacinação não se deve à falta de capacidade nacional, assegurou, mas antes à falta de vacinas suficientes. “As vacinas têm sempre chegado em menor quantidade e adiando sempre os prazos de entrega”, esclareceu. Por isso, neste momento, a grande preocupação é a “disponibilidade irregular de vacinas”.

“Temos a capacidade de 100 mil vacinas por dia e estamos a vacinar ligeiramente acima”, disse. Alargados os horários, podemos chegar “até às 140 mil vacinas”, garantiu.

No mês de Junho, estava prevista a chegada de 300 mil vacinas da Janssen, mas só chegaram 146 mil. “São coisas que só sabemos 15 a 30 dias para a frente”, justificou. Além disso, também se verificou uma redução nas entregas da AstraZeneca, ainda que atenuada por uma compensação do plano. “O que tem valido, de alguma forma, foi uma antecipação no contrato, por intermediação do Infarmed, de vacinas do quarto trimestre para o segundo trimestre”, afirmou.

Foto

Num balanço geral sobre o segundo trimestre, Henrique Gouveia e Melo explicou que estava previsto chegarem ao território nacional 11 milhões de vacinas, mas só chegaram 7,2 milhões, sendo que 1,4 milhões vão chegar nos últimos dois dias do trimestre e, portanto, “vão transitar para o terceiro trimestre”.

“Tenho ouvido que a solução é vacinar mais. Dá a sensação que nós, de alguma forma, não estamos a vacinar ao máximo. Estamos a vacinar ao máximo que podemos. Temos stocks bastante limitados e arriscamos bastante na esperança sempre de que cheguem vacinas na semana seguinte”, referiu, destacando ainda que, por vezes, as vacinas prometidas “acabam por não ser cumpridas”. “Temos de ter stock mínimo de vacinas para garantir que não comprometemos as segundas doses”, acrescentou.

Vacinar mais ao domingo, mas não em farmácias ou hospitais

Apesar de reconhecer que é necessário dar rotação e folgas aos profissionais de saúde aos domingos, Gouveia e Melo garantiu que estão em curso” estratégias para “aumentar o ritmo do domingo”. No que toca aos recursos humanos, não duvida de que sejam feitas as devidas contratações se necessário.

Quanto à mobilização de outros locais para a vacinação, Gouveia e Melo esclareceu que as farmácias e sistemas drive thru não permitem os 30 minutos de recobro recomendados pela norma da Direcção-Geral da Saúde e, portanto, a vacinação torna-se “impraticável e quase impossível”. Também a possibilidade de recorrer aos hospitais está fora de questão por enquanto. “Nós ainda temos capacidade e podemos aumentar a capacidade dos sistemas que temos”, assegurou, acrescentando que isso implicaria pressionar um sistema já muito sobrecarregado.

Henrique Gouveia e Melo antevê que se 70% da população estiver vacinada com uma dose em Agosto, em Setembro esta percentagem deverá subir para 90% e para 70% com as duas doses. Nesse cenário, admite que o processo de vacinação possa começar a perder velocidade. Se houver necessidade de uma terceira ou quarta dose, o processo não tem fim e eventualmente deverá ficar enraizado no sistema de saúde. “Já começamos a ver a luz ao fundo do túnel”, concluiu.

Sugerir correcção
Ler 14 comentários