Vacina cubana Abdala tem eficácia de 92,28%, anuncia Havana

Há cinco vacinas em desenvolvimento em Cuba, e a exportação está nos planos da ilha comunista, apesar das dificuldades em abastecer o mercado nacional de medicamentos.

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Voluntário prepara-se para ser vacinado com a Abdala Reuters/ALEXANDRE MENEGHINI

A vacina cubana Abdala contra a covid-19 tem uma eficácia de 92,28%, comparável às mais eficazes do mercado internacional, depois de tomadas as três doses necessárias para completar o tratamento, anunciou o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba (CEGB), que a desenvolveu. É uma vitória para a ilha comunista, que seguiu a estratégia de desenvolver vacinas próprias, em vez de comprar as disponíveis no mercado internacional.

Estes resultados foram anunciados sem mais pormenores, mas com grande pompa,  apesar de na segunda-feira Cuba ter registado o aumento de casos diário de covid-19 mais alto desde que se iniciou a pandemia: 1561 novos casos. Mas o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, visitou o CEGB e, na sua conta de Twitter oficial, louvou o esforço dos cientistas: “Atacados por duas pandemias (covid-19 e bloqueio), os nossos cientistas do [Instituto] Finlay e CEGB saltaram por cima de todos os obstáculos e deram-nos vacinas muito eficazes: Soberana e Abdala”.

Soberana 02 é o nome de uma das cinco vacinas contra a covid-19 que Cuba desenvolveu. Está também a ser testada, e foram divulgados resultados intermédios dos ensaios clínicos no sábado: tem 62% de eficácia. No entanto, esta avaliação foi feita quando os participantes tinham tomado apenas duas das três doses que têm de ser administradas (com 14 dias de intervalo) para completar a vacinação, noticiou o diário Granma, órgão oficial do Partido Comunista cubano.

Estas duas vacinas estão a ser testadas em ensaios clínicos muito alargados, denominados “estudos de intervenção”, que envolvem cerca de dois milhões de pessoas, iniciados em Março. Até agora, cerca de um milhão dos 11,2 milhões de cubanos têm as três doses de uma das vacinas experimentais, diz a Reuters. Há vários tipos de ensaios e em várias cidades da ilha – por exemplo, com pessoas maiores de 60 anos em oito bairros de Havana.

O Governo de Havana anunciou que deve ser iniciado o processo para a autorização do uso de emergência da Abdala – o nome de um poema escrito pelo ícone revolucionário cubano José Martí. São vacinas de subunidade proteica, ou seja, usam apenas uma parte da proteína da espícula do vírus SARS-CoV-2 para desencadear uma reacção imunitária – aquela que se liga aos receptores ACE2 à superfície das nossas células.

Foram também anunciados planos para pedir autorização de uso de emergência à Organização Mundial de Saúde desta vacina – com o objectivo de vir a exportá-la, embora Cuba não integre a iniciativa Covax, que tem o objectivo de fazer chegar vacinas aos países mais pobres.

Cuba tem todo um ecossistema de empresas estatais e institutos de investigação em biotecnologia, e já anteriormente desenvolveu vacinas que foram exportadas – por exemplo para a meningite. Mas o embargo norte-americano penaliza bastante este sector. O país não consegue satisfazer toda a procura nacional de antibióticos e analgésicos simples, como relatam vários media internacionais. Por isso, há dúvidas sobre a sua capacidade para exportar vacinas – até porque a pandemia fez grandes estragos na economia da ilha, a começar pelo sector do turismo.

No entanto, é possível que a vacina seja fabricada noutros países. O Irão, que também recusou comprar as vacinas disponíveis no mercado internacional, acolheu ensaios clínicos da Soberana O2, que foi produzida localmente, noticiou a Reuters.

E há a Venezuela: em Março, foi feito o anúncio de que Cuba enviaria 30 mil doses das vacinas experimentais Soberana 02 e Abdala para aquele país aliado. Foi também anunciado que cientistas cubanos e chineses trabalhariam no desenvolvimento de uma outra vacina, contra as novas variantes do coronavírus, noticiou a CNN.

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