Presidente eleito do Irão recusa que a vida das pessoas seja moeda de troca no acordo nuclear

Numa altura em que os diplomatas “estão optimistas” sobre a conclusão das negociações em Viena, Ebrahim Raisi voltou a insistir que o levantamento de sanções dos EUA tem de chegar primeiro.

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O Presidente eleito do Irão WANA NEWS AGENCY/Reuters

O Presidente eleito do Irão, Ebrahim Raisi, afirmou esta segunda-feira que a política externa de Teerão “não estará limitada ao acordo nuclear de 2015”, numa altura em que decorrem conversações em Viena, e enfatizou que os Estados Unidos devem levantar as sanções e voltar ao acordo para a sua total implementação.

“A política externa do nosso Governo não começa com o acordo nem estará limitada por ele”, disse Raisi, antes de sublinhar que “não se vinculará a situação económica e a vida das pessoas a estas negociações, mas não se permitirá que haja negociações apenas para tê-las”.

Raisi, um ultraconservador que até agora chefiava o aparelho judicial iraniano, destacou a sua vitória nas presidenciais do dia 18 de Junho como “uma mensagem de unidade nacional e coerência” e a “mensagem da nação iraniana é a da necessidade de uma mudança na situação económica”.

Apesar da participação nas eleições presidenciais ter sido a mais baixa desde a implantação da República Islâmica em 1979, Raisi afirmou que as pessoas acudiram às urnas “mesmo com a situação do coronavírus e a hostilidade e a guerra psicológica dos inimigos do Irão”.

Por outro lado, prometeu lograr a confiança da população no Governo e apontou que “qualquer um cujo coração bata pelo povo e pela revolução será um parceiro, esteja como estiver o país”, de acordo com a televisão iraniana Press TV.

O Presidente cessante, Hassan Rohani, fez finca-pé esta segunda-feira que o levantamento de sanções contra o país terá lugar “em breve” e voltou a denunciar a “guerra económica” levada a cabo pelos Estados Unidos, informou a agência de notícias iraniana Mehr.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Saeed Khatibzadeh, afirmou que “a política do Irão nunca foi adiar o levantamento das sanções” e acrescentou que “não é improvável que a próxima ronda de negociações seja a última”.

“Os diplomatas estão optimistas, mas é ainda demasiado cedo para julgar e temos que ver se todas as partes tomam decisões políticas”, disse Khatibzadeh, que sublinhou que o princípio de acordo “é claro”.

O porta-voz da diplomacia iraniano referiu que Teerão quer garantias da Administração norte-americana sobre os pontos do acordo. “Os Estados Unidos mostraram durante a era [do ex-Presidente Donald] Trump que podem ignorar com arrogância os interesses dos outros países”, disse.

Para o Irão, “seria melhor que os europeus regressem aos seus compromissos”, enfatizou Khatibzadeh. “Não permitiremos que as negociações sejam minadas. Os detalhes são tão importantes como as coisas gerais. Não se pode alcançar um acordo se não há acordo sobre tudo”.

O Irão anunciou a retirada dos compromissos sobre vários dos pontos do acordo, o que provocou o receio do resto dos signatários de um possível colapso do acordo sobre o seu programa nuclear. No entanto, as autoridades iranianas sempre defenderam que esses passos podem ser revertidos se os EUA levantarem as sanções.

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