Jornal Apple Daily de Hong Kong pode fechar na sexta-feira

Reunião do conselho de administração vai decidir destino do diário pró-democracia, que na semana passada foi alvo de uma operação policial que levou à detenção do chefe de redacção. Descongelamento das contas bancárias é essencial para a continuidade do jornal.

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Fila numa banca de jornais em Hong Kong para comprar o Apple Daily Reuters/JAMES POMFRET

O diário pró-democracia de Hong Kong Apple Daily poderá deixar de ser publicado se o conselho de administração decidir, numa reunião marcada para sexta-feira, que o jornal não tem condições para continuar. 

“Poderá ser uma questão de dias até o jornal ser forçado a fechar”, disse à BBC Simon Marks, conselheiro do proprietário, Jimmy Lai, crítico do regime de Pequim, que foi preso no ano passado, acusado de “conluio com forças estrangeiras”, “sedição” e “conspiração para cometer fraude”. No mês passado, Lai foi condenado a uma nova pena de 14 meses, pelo seu papel numa manifestação não autorizada a 1 Outubro de 2019.

“Se o conselho de administração decidir não continuar a operar na sexta-feira, a publicação de conteúdos online será interrompida às 23h59 e o jornal encerrará as suas actividades após a publicação da edição de 26 de Junho”, lê-se num memorando interno da Next Digital, a empresa que publica o Apple Daily, visto pela Reuters.

Na quinta-feira passada, a redacção do Apple Daily foi alvo de uma operação policial que envolveu cerca de 500 agentes e culminou com a detenção do chefe de redacção e de quatro executivos da empresa. A operação foi motivada pela publicação de artigos críticos da China que, segundo as autoridades, violam a Lei da Segurança Nacional do território. Ao mesmo tempo, foram congelados 18 milhões de dólares de Hong Kong (cerca de dois milhões de euros) em activos do jornal.

No dia seguinte à operação policial, a procura pelo Apple Daily disparou em Hong Kong, obrigando o jornal a aumentar a circulação, que é geralmente de 80 mil, para 500 mil.

No memorando citado pela Reuters, a Next Digital afirma que enviou uma carta ao Departamento de Segurança de Hong Kong a solicitar que alguns dos activos fossem descongelados para evitar que a empresa incorra na violação das leis laborais ao deixar de pagar aos funcionários. 

“Se a empresa não tem dinheiro, não pode solicitar quaisquer serviços. Mais importante, não pode prometer pagar às pessoas quando não tem acesso a fundos para cobrir essas despesas. Isso é ilegal em Hong Kong”, disse Simon Marks, acrescentando: “O jornal hoje ainda chegou às bancas, mas é apenas uma questão de dias até que isso deixe de acontecer, a não ser que as suas contas bancárias sejam descongeladas”.

No domingo, o Apple Daily fez saber que só tinha dinheiro suficiente para continuar as operações normais por “algumas semanas”.

Também esta segunda-feira, a plataforma pró-democracia Frente Civil dos Direitos Humanos (CHRF, na sigla em inglês) anunciou que vai analisar, numa reunião geral em Setembro, a sua dissolução, já que perdeu força com a saída de alguns dos membros, devido à situação política na cidade, de acordo com um dos responsáveis, Chun Chung-fai, citado pelo portal online Hong Kong Free Press.

A CHRF anunciou ainda o cancelamento, pela primeira vez em 18 anos, da manifestação de 1 de Julho, data da transferência da soberania do território do Reino Unido para a China, em 1997.

No ano passado, a polícia de Hong Kong proibiu a manifestação pela primeira vez em 17 anos, uma decisão justificada pelos episódios violentos ocorridos durante os protestos antigovernamentais, em 2019, e por violar as restrições impostas para combater a pandemia da covid-19.

 
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