Centeno: “Eternizar” moratórias de crédito “é negativo”

Segundo o governador do banco central português, 50.000 empresas e 282.000 mil famílias tinham, em Abril, créditos em moratória

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O governador do Banco de Portugal defendeu esta segunda-feira que não se pode “eternizar” as moratórias de crédito, concedidas para fazer face aos efeitos da pandemia na economia, e que empresas e bancos devem cooperar na adaptação ao período pós-moratória.

“Não consideramos que as moratórias de crédito são medidas que assumem um carácter de permanência, porque isso é negativo. [...] Não podemos ficar nessa ideia de eternizar o processo de moratória de crédito”, defendeu Mário Centeno, em conferência de imprensa sobre o Relatório de Estabilidade Financeira, relativo a Junho, hoje divulgado pelo Banco de Portugal (BdP).

Segundo o governador do banco central português, 50.000 empresas e 282.000 mil famílias tinham, em Abril, créditos em moratória. No caso das empresas, as que não pertencem aos sectores mais afectados pela pandemia já só têm moratória de capital, pagando apenas juros.

“Devemos olhar para o final de Setembro e identificar quais são os sectores e “em que a actividade económica”, que ainda não recuperaram face ao final de 2019 “e, para esses sectores, prever medidas temporárias de apoio ao reinício de pagamento do seu serviço de dívida, porque é exactamente isso que é relevante fazer nesse momento”, afirmou Mário Centeno, sublinhando a necessidade de se encontrar, “em conjunto”, uma resposta para o período pós-moratórias.

Mário Centeno apontou os sectores do alojamento e a restauração como os que possam vir a necessitar de medidas transitórias de apoio adicional, caso, em Setembro, a actividade económica não tenha ainda recuperado.

“Temos de estar muito focados na questão europeia de visualizar o sistema financeiro português no contexto europeu, porque é aí que ele se enquadra, aí que ele se desenvolve. Nós não podemos correr o risco de isolar instituições, ou isolar o sistema daquilo que são as grandes tendências europeias e, portanto, as instituições bancárias em Portugal vão, com certeza, adaptar-se a essa evolução e a política vai, com certeza, adaptar-se a que não haja um problema sistémico na área do euro nesta matéria”, acrescentou Mário Centeno.

O Parlamento aprovou na sexta-feira a prorrogação e alargamento das moratórias bancárias, que terminavam no final de Setembro, até 31 de Dezembro, na componente de reembolso de capital, para particulares e empresas de sectores especialmente afectados pela pandemia de covid-19, mas a medida visa apenas alguns sectores e depende da aprovação da EBA para ser realmente eficaz.

O texto final apresentado pela Comissão de Orçamento e Finanças relativo a um projecto de lei do PCP foi aprovado na votação final global com a abstenção do PS e votos a favor do PSD, Bloco de Esquerda, PCP, CDS-PP, PAN, PEV, Chega, Iniciativa Liberal e as deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues.

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