Indústria 5.0, o novo paradigma de transformação digital do sector de manufacturing

A Indústria 5.0, que irá complementar a Indústria 4.0, assenta em três pilares que têm por objectivo a humanização da utilização da inteligência artificial (IA): desenvolvimento duma abordagem centrada no ser humano, sustentabilidade e resiliência.

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D.R.

Esta complementaridade parte das tecnologias que a Indústria 4.0 desenvolveu, nas quais a IA já é uma parte integrante, e coloca-as ao serviço do ser humano, do ambiente e da sociedade. O objectivo, transformar um mundo de dados num mundo cuja inteligência permita ao ser humano tomar as melhores decisões. Ou seja, a tecnologia ao serviço da sociedade.

Criado na Alemanha em 2013, o termo Indústria 4.0 tem a ver com a capacitação tecnológica baseada na manipulação de dados disponibilizados por sistemas de IoT e outros geradores de dados e na integração de processos digitais com processos físicos, nomeadamente na integração com os humanos. E é também aqui que a IA (duma forma lata) começa a dar os primeiros passos no mundo industrial, através de soluções de recolha de dados de várias fontes, tratamento e modelação dos mesmos para identificação de causas raiz de problemas de qualidade de produção, manutenção preditiva de equipamentos e optimização de processos de fabricação, para mencionar apenas alguns.

Estes novos sistemas no âmbito da Indústria 4.0 estão focados na maximização da rentabilidade e eficiência das empresas, sem olhar para a justiça social ou mesmo para a sustentabilidade. Por outro lado, também é precisamente este aumento de rentabilidade e eficiência das empresas  que vai permitir criar o investimento necessário para a sociedade se focar naquilo que são os pilares do termo Industria 5.0: uma abordagem centrada no ser humano, isto é, na utilização da tecnologia para a obtenção de objectivos sociais que vão para além do aumento de lucros e manutenção de empregos.

Abordagem centrada no ser humano

Esta é talvez a mudança de paradigma mais importante da Indústria 5.0! A mudança dum progresso baseado na tecnologia para um progresso baseado no ser humano. O trabalhador deixa de ser um custo e passa a ser um investimento. E esta é uma mudança difícil pois é disruptiva e implica mudanças de mentalidade de todos os intervenientes: empregadores e empregados. Em termos de responsabilidade e de responsabilização, ambos têm de estar prontos e abertos para a mudança. Neste sentido, os colaboradores passam a estar envolvidos no desenho e na implementação de novas tecnologias. Para tal, a gestão tem de estar disposta a investir em formação e conhecimento, e tão importante ou mais, os funcionários têm de estar empenhados em aprender novas tecnologias e processos, para que possam precisamente ter um papel interveniente. Ninguém numa fábrica conhece melhor o equipamento do que o seu operador. Com a devida formação e responsabilização, não será ele também a melhor pessoa para definir as especificações da próxima evolução da máquina?​

Qual a tecnologia? Através da disponibilização de ferramentas analíticas “democráticas” que complementem a capacidade de decisão de todos os envolvidos, do trabalhador da linha de produção ao presidente da companhia. Desde soluções de previsão de vendas para definição da produção necessária, até aos Digital Twins, que permitem ter uma versão digital da fábrica, possibilitando a simulação de cenários de fabrico sem ter efectivamente de os executar, permitindo grandes benefícios.

Empresas como o SAS preconizam a utilização da IA por todos, desenvolvendo soluções de analítica avançada de dados com interfaces fáceis de interpretar por qualquer pessoa, de modo a fomentar a democratização da tecnologia. Da mesma forma que há 30 anos quase ninguém escrevia os seus documentos em formato electrónico, no futuro, muito próximo, o tratamento de dados estará nas mãos de todos!

Sustentabilidade

Para além das alterações tecnológicas de base (formas mais eficientes de produção de energia que tendencialmente venham a ser neutras do ponto de vista da produção de carbono), esta é uma área de excelência para o tratamento de dados, nomeadamente dos processos de fabrico. Tanto directamente (análise de dados para optimizar ciclos e planeamento de produção inteligente), como indirectamente através do controlo de qualidade e redução do desperdício, entre outros.​

Resiliência

Ou seja, a capacidade de reagir com flexibilidade e rapidez às mudanças, sejam elas geopolíticas ou emergências naturais, como a pandemia causada pelo Covid-19. Esta é uma área na qual o tratamento de dados é também uma ferramenta importante na previsibilidade, não tanto dos fenómenos em si, mas das suas consequências. Soluções de forecasting e de reporting em tempo real  ajudam a interpretar  a situação e a sua evolução, para que possam ser tomadas decisões confiáveis orientadas a minimizar o impacto que os eventos disruptivos possam ter.​

Assim, enquanto a Indústria 4.0 utiliza tecnologias analíticas e de inteligência artificial para o aumento de valor para o accionista e manutenção de emprego base, a Indústria 5.0 é a evolução natural, utilizando as mesmas tecnologias para fazer da Indústria, em geral, um fornecedor resiliente e responsável de prosperidade, respeitando os limites do nosso planeta e colocando o bem-estar do operário no centro do processo de produção!

Este artigo é da autoria de Pedro Chaves, Director de Negócio de Manufacturing do SAS Portugal.