O desconfinamento do pensamento

É forçoso desconfinar na Educação e na Saúde e atribuir às Universidades e aos Politécnicos meios para partilharem o conhecimento e promoverem a especialização, permitindo que as diferentes áreas em saúde não sejam propriedade exclusiva de alguns, para benefício de poucos.

Vivemos tempos atípicos no trabalho, na educação, nas relações interpessoais e, particularmente, nos cuidados em saúde. Num primeiro momento, fomos obrigados a reagir. Procurou identificar-se necessidades e encontrar respostas. Fomos forçados a reconhecer insuficiências e a identificar novas soluções.

Ficou claro que o modelo de Saúde em Portugal tem de se ajustar às necessidades da sociedade, às suas transformações culturais e económicas, e não o contrário. É fundamental definir, de uma vez por todas, que o foco tem de ser o paciente e ser capaz de estar em permanente transformação. No que toca à prestação de cuidados, há que adotar uma cultura de exigência, o que começa na formação e na valorização da profissão. É angustiante, e de difícil compreensão, que os profissionais de saúde prestem cuidados, regulares e de qualidade, cansados e a sentirem-se desvalorizados.

Muito se tem escrito sobre as reformas a implementar na saúde. No entanto, sem se investir no ensino universitário e politécnico, com o financiamento ajustado à investigação e ao conhecimento, torna-se penosa a existência de contributos significativos. O futuro passa, inevitavelmente, por um trabalho conjunto e integrado das áreas do saber em ciências da saúde, com um conteúdo reformista nas múltiplas dimensões que o setor incorpora.

Também o investimento na prevenção da doença deve ser correspondente ao compromisso na melhoria da educação e investigação. São mais do que conhecidos os ganhos em saúde para uma população, quando existe uma forte aposta na prevenção, que, por sua vez, se traduz numa redução de custos para o Estado e para as famílias e numa maior eficiência na assistência hospitalar.

É ilusória a reforma do sistema de saúde que não seja sustentada no conhecimento.

É forçoso desconfinar na Educação e na Saúde e atribuir às Universidades e aos Politécnicos meios para partilharem o conhecimento e promoverem a especialização, permitindo que as diferentes áreas em saúde não sejam propriedade exclusiva de alguns, para benefício de poucos.

Há que desconfinar o pensamento. Só assim conseguiremos ultrapassar convenções grosseiras e práticas obsoletas que apenas conduzem à perda de oportunidades estruturantes. O contexto estratégico das faculdades de medicina, das escolas superiores de enfermagem e demais instituições de ensino permitem um processo contínuo de formação nos variados domínios de intervenção. O desenvolvimento conjunto e articulado pode minorar as previsíveis restrições orçamentais, reforçar o sistema de saúde e melhorar a saúde da população.

Hoje, sentimos a necessidade de analisar o presente e refletir sobre o futuro. Procurar, a partir de pontos de vista e experiências diferentes, preconizar uma cooperação interdisciplinar que incentive a compromissos inovadores.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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