Covid-19: terceira dose da vacina aumenta níveis de anticorpos em transplantados

Estudo verifica que a produção de anticorpos em pessoas transplantadas aumentou com uma dose a mais, em comparação com as duas doses habituais. É agora necessário investigar se esse aumento se traduz de facto numa maior protecção contra a infecção pelo coronavírus.

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M.E. Newman/Universidade Johns Hopkins

A toma de uma terceira dose da vacina contra a covid-19 aumenta os níveis de anticorpos em pessoas que receberam um transplante (um grupo de risco que foi prioritário no processo de vacinação), segundo os resultados de uma investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Johns Hopkins (nos Estados Unidos), que também indicam que essa dose a mais é segura. A equipa sugere agora que se deve fazer mais investigação para saber se, além do aumento dos anticorpos com uma terceira dose, os transplantados e outras pessoas imunodepremidas ficam de facto protegidas da infecção pelo coronavírus. 

A resposta de anticorpos após duas doses de uma vacina contra a SARS-CoV-2 é considerada muito boa na população em geral, mas o mesmo não acontece em quem recebeu o transplante de um órgão sólido, como um coração ou um pulmão. Como estas pessoas têm de tomar fármacos que enfraquecem o sistema imunitário para evitar a rejeição do novo órgão, a sua capacidade de produzir anticorpos contra agentes estranhos, incluindo a reposta às vacinas, é débil – o que as torna particularmente vulneráveis. 

Em estudos anteriores, a equipa da Universidade Johns Hopkins já tinha verificado que apenas 17% dos receptores de transplantes que participaram nessas investigações produziram anticorpos suficientes após uma dose da vacina – um valor que subia para os 54% após a segunda dose.

Agora, pela primeira vez, há provas de que três doses da vacina podem aumentar o nível de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 em pessoas transplantadas, em comparação com as duas doses habituais, considera a equipa que publicou os resultados na revista Annals of Internal Medicine.​ Os cientistas avaliaram a resposta de 30 transplantados à toma da terceira dose de uma de três vacinas –​ Janssen, Moderna ou Pfizer/BioNTech –, incluindo a sua segurança. 

“Os nossos resultados revelaram que um terço dos participantes que tinham níveis negativos de anticorpos e todos os que tinham níveis positivos baixos antes do reforço aumentaram a resposta imunitária após uma terceira dose de vacina”, assinalou em comunicado Dorry Segev, um dos autores do estudo.

Uma semana após terem recebido a sua terceira dose, 23 dos participantes do estudo descreveram que os seus efeitos secundários foram geralmente suaves ou moderadas, com um participante a relatar dores graves no braço e outro uma forte dor de cabeça – reacções que, segundo os investigadores, são aceitáveis em comparação com os benefícios da terceira dose.

Por isso, os investigadores deixam esta proposta: “Os nossos resultados sugerem que se justificam ensaios clínicos para determinar se os transplantados devem receber um reforço da vacina contra a covid-19 como prática clínica padrão, semelhante ao que é feito actualmente com as vacinas da hepatite B e da gripe para esta população”, afirma William Werbel, o autor principal do estudo.

Além disso, como o estudo apenas analisou os níveis de anticorpos, continua a ser necessária mais investigação para se verificar se uma terceira dose de vacina está de facto associada a taxas mais baixas de infecção por SARS-CoV-2 nas pessoas imunodepremidas, como é o caso dos transplantados.

“Embora a terceira dose de vacina pareça aumentar a resposta imunitária dos transplantados para níveis mais elevados do que após uma ou duas doses, estas pessoas podem ainda estar em maior risco de infecção pelo SARS-CoV-2 do que a população geral que foi vacinada”, alerta William Werbel. Por isso, o uso de máscara e o distanciamento físico continuam a ser recomendados a transplantados e outras pessoas imunodeprimidas.

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