Trump pressionou Departamento de Justiça a investigar queixas rejeitadas em tribunal

Assistente do ex-Presidente dos EUA enviou emails à liderança do departamento com supostos indícios de fraude eleitoral que tinham sido considerados “nada mais do que suposições e conjecturas”.

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Donald Trump queria que o Departamento de Justiça anunciasse a abertura de investigações criminais Reuters/JIM BOURG

Uma nova série de emails remetidos pelo Departamento de Justiça dos EUA ao Congresso norte-americano, no âmbito das investigações sobre a invasão do Capitólio, veio revelar mais pormenores sobre os esforços do ex-Presidente Donald Trump para invalidar a vitória de Joe Biden na eleição de Novembro de 2020.

De acordo com emails enviados pela Casa Branca, em Dezembro, e revelados esta terça-feira pelo jornal New York Times, a pressão de Trump para que o Departamento de Justiça investigasse queixas infundadas de fraude eleitoral – que já tinham sido descartadas pelos tribunais – recebeu um novo impulso a 14 de Dezembro, o dia em que o Colégio Eleitoral viria a confirmar a eleição de Biden.

Num dos emails, um assistente do então Presidente dos EUA enviou ao vice-procurador-geral norte-americano, Jeffrey A. Rosen, um documento com supostas provas de fraude eleitoral no estado do Michigan, que tinham sido consideradas por uma juíza, apenas uma semana antes, “nada mais do que especulações e conjecturas”.

Segundo o Times, o email foi enviado para Rosen uma hora antes de Trump ter anunciado em público a saída antecipada do procurador-geral, William Barr, que viria a ser substituído por Rosen.

O documento que a Casa Branca fez chegar ao responsável que iria receber o poder para abrir investigações criminais sobre supostos indícios de fraude eleitoral, tinha como base um processo apresentado em tribunal pela advogada Sidney Powell – a mesma a quem a empresa Dominion, fabricante de máquinas de votação electrónica, pede agora, em tribunal, uma indemnização por difamação no valor de 1,3 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros).

Num outro email enviado a Rosen, a 29 de Dezembro, o assistente de Trump pressionou o Departamento de Justiça a abrir uma investigação criminal sobre a acusação — feita por apoiantes do ex-Presidente dos EUA — de que os responsáveis eleitorais em estados como a Georgia e a Pensilvânia tinham aproveitado a pandemia para fragilizarem a segurança eleitoral e, dessa forma, beneficiarem Joe Biden.

O objectivo, segundo o Times, era que o Departamento de Justiça levasse o caso ao Supremo Tribunal e reforçasse, com o seu cunho, a credibilidade das queixas de fraude perante o eleitorado de Trump. O essencial dessa queixa contra os estados já tinha sido descartado pelo próprio Supremo Tribunal, duas semanas antes, quando se recusou a analisar um processo semelhante apresentado pelo estado do Texas. 

Não é ainda claro se Jeffrey Rosen chegou a reunir-se com conselheiros de Trump sobre as queixas que o então Presidente dos EUA queria ver transformadas em investigações criminais. Num outro email revelado esta quinta-feira pelo Times, o responsável do Departamento de Justiça disse ao seu adjunto que se recusou a dar “qualquer tratamento especial” ao ex-advogado de Trump, Rudolph Giuliani, e reafirmou que não falaria com ele “sobre nada disto”, referindo-se às queixas infundadas de fraude eleitoral.

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