Mais casos, internamentos e menos testes à covid-19 — e a variante Delta a crescer na região de Lisboa

O relatório de monitorização das linhas vermelhas da covid-19, divulgado esta sexta-feira, revela que a incidência da doença cresce em Portugal e é mais notória no grupo etário dos 20 aos 29 anos. Foram identificados 92 casos da variante Delta em território nacional.

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Vista para a cidade de Lisboa Nuno Ferreira Santos

Há vários sinais de alerta no relatório semanal de monitorização das linhas vermelhas da pandemia de covid-19, divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Ricardo Jorge (INSA) e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Primeiro, Portugal está a registar mais casos de covid-19, factor que já está a ter influência no número de internamentos por causa da doença. Além disso, numa fase em que os casos crescem, o país está a fazer menos testes para detectar infecções e a variante Delta (identificada pela primeira vez na Índia), está a espalhar-se na comunidade, principalmente na região de Lisboa e Vale do Tejo.

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Teste à covid-19 em Pombal PAULO CUNHA

Segundo o INSA e a DGS, o número de novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias foi de 83 casos, o que revela “uma tendência crescente a nível nacional”. Foi no grupo etário dos 20 aos 29 anos que se registou a maior incidência cumulativa (145 casos por 100 mil habitantes).

“Embora com menor risco individual de evolução desfavorável da doença, os indivíduos deste grupo podem contribuir para a transmissão à população mais vulnerável e ainda não vacinada. O grupo etário com mais de 80 anos apresentou uma incidência cumulativa de 21 casos, o que reflecte um risco de infecção muito inferior ao risco para a população em geral”, lê-se no documento.

Com a subida dos casos diários, também o número de internados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) no continente revelou uma tendência crescente, correspondendo a 29% do valor crítico definido de 245 camas ocupadas. Segundo o boletim diário da DGS, Portugal tinha esta quinta-feira 306 doentes hospitalizados, mais 11 do que no dia anterior, dos quais 72 estão em unidades de cuidados intensivos. Destes 72 doentes internados, 34 estão em hospitais da região de Lisboa (47% do total de casos em UCI). Como noticiou o PÚBLICO esta semana, a idade média das pessoas internadas baixou: o relatório revela que o grupo etário com mais doentes em UCI é o dos 50 aos 59 anos (23 casos).

Se esta tendência de crescimento se mantiver, a taxa de incidência poderá ultrapassar os 120 casos por 100 mil habitantes (um dos limites definidos pelo Governo para travar o avanço do desconfinamento) dentro de 15 a 30 dias, sendo que esse limiar já foi ultrapassado em Lisboa e Vale do Tejo.

O índice de transmissibilidade, o R(t), é superior a 1 a nível nacional (1,07) e em todas as regiões, menos no Norte, sugerindo “uma tendência crescente” que é mais acentuada em Lisboa e Vale do Tejo — região que tem um R(t) de 1,12. Na prática, se este valor for igual a 1 quer dizer que uma pessoa infectada vai dar origem a outro caso de infecção. Caso esteja acima de 1, o número de casos irá aumentar; se for inferior a 1, haverá uma diminuição das infecções.

Menos testes e mais casos da variante Delta

O número de testes para despistar a covid-19 feito no período analisado (3 a 9 de Junho) também diminuiu, algo que, segundo a DGS e o INSA, pode ser explicado pela existência de um feriado nessa semana. No total, foram realizados cerca de 296 mil testes em sete dias, valor abaixo dos 325 mil feitos na semana anterior.

A proporção de testes positivos foi de 1,6%, valor inferior ao limiar definido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) de 4%, mas, dentro dos testes realizados, o relatório avança que existiu “um aumento da proporção de testes positivos”. Isto significa que, dentro das amostras colhidas, há mais resultados positivos a serem detectados. Além disso, "observou-se um aumento pequeno na proporção de atraso na notificação” dos casos positivos, ainda abaixo do valor de referência de 10%.

Até 9 de Junho, foram identificados 92 casos da variante Delta (B.1.617.2, detectada pela primeira vez na Índia) em território português. “Existe transmissão comunitária desta variante, mais evidente na região de Lisboa e Vale do Tejo”, revela o relatório.

Ainda assim, a variante dominante em Portugal continua a ser a Alpha (B.1.1.7, descoberta pela primeira vez no Reino Unido), que foi detectada em 88,4% das amostras recolhidas em Maio.

De acordo com a Public Health England, a variante Delta é, actualmente, a variante dominante no Reino Unido, tendo-se “ultrapassado” a variante Alpha (detectada pela primeira vez naquele país). “De acordo com o relatório técnico da PHE, a presença desta variante parece estar associada a um maior risco de transmissibilidade e talvez de internamento quando comparado com a variante Alpha, sendo, no entanto, necessária mais evidência”, lê-se no relatório.

Foram ainda identificados 111 casos da variante Beta (estirpe da África do Sul) e 142 casos da variante Gamma (associada a Manaus, Brasil). Existe, segundo o relatório, transmissão comunitária de ambas as variantes.

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