Presidente peruano em contacto com Castillo e Fujimori para “baixar a tensão”
O sindicalista proclamou-se vencedor da segunda volta das eleições presidenciais do passado domingo, mas a sua adversária diz ter havido fraude.
O Presidente peruano, Francisco Sagasti, confirmou que falou com pessoas próximas tanto de Pedro Castillo como de Keiko Fujimori, os dois aspirantes à presidência nas eleições de domingo passado, com o único objectivo de “baixar a tensão” enquanto se aguarda a publicação de “resultados oficiais” da segunda volta.
“A tarefa de um chefe de Estado é fazer com que o país mantenha a serenidade e a calma em momentos difíceis e complexos. Nesse esforço, entrei em contacto com várias pessoas que, ao que percebi, têm contacto com as duas candidaturas”, explicou Sagasti, que citou entre os seus interlocutores o escritor Mario Vargas Llosa, ligado à candidatura de Fujimori.
Sagasti pediu que “não se distorça nem interprete mal” uma decisão com a qual pretende “manter a tranquilidade num ambiente tão polarizado, complexo e difícil”, depois de Castillo ter-se proclamado vencedor antes da confirmação dos resultados e de Fujimori ter denunciado uma fraude eleitoral sem apresentar provas.
“Não deixarei passar nenhuma mentira nem tergiversação das minhas palavras e acções pelos inimigos da democracia. Continuarei com o meu esforço de procurar o melhor para o nosso país, e irei fazê-lo até ao último minuto da minha gestão”, prometeu Sagasti, que tomou posse em Novembro para dotar o país de um mínimo de estabilidade até às eleições.
No final de uma reunião com os observadores da Organização de Estados Americanos (OEA), o Presidente cessante reiterou que o Governo “de emergência” tinha entre os seus objectivos “devolver a confiança aos cidadãos e devolver-lhes a esperança”, e insistiu na sua defesa de que o último processo eleitoral foi “limpo e transparente”, de acordo com a imprensa peruana.
Sagasti sustentou que “não há justificação” para utilizar a palavra “fraude” durante a segunda volta das eleições, rejeitando as acusações de Fujimori, que também não tiveram eco para além do seu próprio partido.
O Ministério das Relações Exteriores do Peru pediu, entretanto, à comunidade internacional, “em especial aos países amigos”, que se “abstenham” de fazer comentários sobre o processo eleitoral antes de um vencedor ser declarado oficialmente. O Presidente da Argentina, Alberto Fernández, chegou a tratar Castilho como “Presidente eleito”.
Castilho, candidato da esquerda, está à frente na contagem eleitoral, com 50,2% dos votos expressos, contra 49,8% de Keiko Fujimori, da direita, com 100 por centos das actas eleitorais contabilizadas. A diferença entre os dois é de cerca de 70 mil votos.
No entanto, a filha do antigo Presidente Alberto Fujimori pediu a recontagem de 200 mil votos.
Na sua conta de Twitter, o ministério lembra que o processo eleitoral só estará concluído quando a comissão eleitoral peruana declarar o vencedor, algo que ainda não tinha acontecido esta sexta-feira ao princípio da tarde.