Especialista desvaloriza aumento de casos: “Importa é olhar para os internamentos”

Pelo segundo dia consecutivo, novos “positivos” aproximam-se dos mil. Mas o número de pessoas ao cuidado dos hospitais baixou. No início da próxima semana, serão visíveis os efeitos do aumento dos contactos nos fins-de-semana prolongados, antecipa Tiago Correia, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

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O país tem registado um aumento gradual do número de infecções Rui Gaudencio

Pelo segundo dia consecutivo, o número de novos casos de covid-19 registados em Portugal ultrapassou o valor registado a 6 de Março. Depois de, na quarta-feira, terem sido reportados 890 “positivos”, esta quinta-feira a Direcção-Geral da Saúde (DGS) divulgou que foram 910 as pessoas infectadas com o novo coronavírus.

O número de novos casos aproxima-se dos mil, o que, para o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT), Tiago Correia, “é sobretudo uma barreira psicológica”. “Não fico mais preocupado com mil novos casos diários do que com 900”, começa por dizer.

Para o especialista, com o avanço da vacinação, “mais importante do que avaliar a transmissão do vírus é olhar para o número de internamentos”. O boletim da DGS desta quinta-feira mostra que o número de pessoas ao cuidado das unidades de saúde devido à covid-19 desceu: há 295 hospitalizados, menos 12 do que na quarta-feira. No entanto, estão mais duas nos cuidados intensivos, onde estão 72 pacientes por causa da doença. 

Com o aumento do número de “positivos”, o total de internamentos terá “tendência a crescer” também, prevê Tiago Correia. A questão mais importante está em saber a que ritmo se fará esse crescimento. “Enquanto estiver a uma velocidade estabilizada, a situação é gerível”, mas se houver “um aumento mais rápido”, será necessário reagir, defende o investigador do IHMT.

Ainda que considere o indicador menos relevante nesta fase da pandemia, Tiago Correia analisa o número de novos casos, antecipando que este deverá deverá manter-se dentro do patamar dos últimos dias até ao início da próxima semana: “Terça ou quarta-feira é que vamos ter realmente noção do impacto que estes dias terão nas infecções.”

Por “estes dias”, o investigador e professor de Saúde Internacional refere-se aos dois fins-de-semana com possibilidade de ponte consecutivos, que “aumentaram os contactos” sociais. Além disso, na zona de Lisboa, este fim-de-semana comemora-se Santo António, o santo popular festejado na capital. As celebrações levarão a encontros, que também poderão acelerar as novas infecções, “por muitas restrições que existam”, afirma.

Entre os 910 novos casos registados esta quinta-feira, 61% (557) dizem respeito a Lisboa e Vale do Tejo. Foi também nesta região que se registaram cinco dos seis óbitos que constam do boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS) publicado nesta quinta-feira. Desde o início da pandemia foram já 17.043 os óbitos provocados pelo vírus.

O Norte continua a ser a região com o maior número de casos acumulados: há 341.921 casos confirmados e 5358 mortes. Lisboa e Vale do Tejo é a segunda: são 324.807 os registos de infecção e 7224 mortes por covid-19 — é a região do país com mais vítimas mortais.​

O Centro contabiliza 120.348 infecções (66 novas) e 3025 mortes. O Alentejo totaliza 30.378 casos (28 novos) e 971 mortes. No Algarve, há 22.536 casos de infecção (mais 36) e 363 óbitos. A Madeira regista 9776 casos de infecção (seis novos) e 69 mortes. Já os Açores registam 5666 casos (mais 38) e 33 mortes.

Esta quarta-feira foram dadas como recuperadas da doença mais 534 pessoas, mantendo-se 24.366 casos activos. Há ainda mais 934 pessoas sob vigilância, num total de 28.012 contactos sob o olhar atento das autoridades. 

Por ser feriado, nesta quinta-feira não houve alteração da matriz de risco. De acordo com a última avaliação, o índice de transmissibilidade do vírus – o R(t) – está nos 1,05 a nível nacional. Se olharmos apenas para Portugal Continental, este valor sobe para 1,07. Relativamente à incidência, o continente regista 73,6 casos de infecção por 100 mil habitantes a 14 dias. Se tomarmos em conta os arquipélagos, este número sobe para os 74,8.

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