Aliens!

Seja como for, não é despropositado começarmos a pensar se, enquanto espécie, estamos prontos para estabelecer contacto com uma outra forma de vida inteligente. A resposta, temo bem, é não.

Os rumores sempre carregam alguma verdade. Ao longo de toda a tarde, o burburinho era mais do que muito, e a conferência de imprensa do Primeiro-Ministro, a meio do seu terceiro mandato, só veio confirmar as suspeições. Batem as oito da noite, António Costa aparece às portas de madeira do salão do Palácio de Belém e os flashes disparam com o som do enxame mais furioso. “Portuguesas, portugueses”, as mãos tremem-lhe por saber que o anúncio é histórico. Não apenas para o país, mas para a Humanidade inteira.

À mesma hora, e após uma reunião conjunta organizada pelas Nações Unidas, a nova presidente norte-americana Kamala Harris havia dado instruções a todos os líderes mundiais: a comunicação ao globo teria de ser feita a uma só voz, em todas as línguas, para que ninguém ficasse de fora num momento de tal monta para a espécie. “Até hoje, achámos que estávamos sós no Universo. Mas hoje, isso muda. Uma forma de vida inteligente comunicou com o planeta Terra e estamos em condições de afirmar que, dentro de poucas horas, vamos estabelecer o primeiro contacto físico.”

O cenário (ainda) parece saído de um filme série-B de ficção científica, mas os tempos não estão bons para desacreditar momentos transformadores - quem é que esperaria que o guião do filme Contágio haveria de saltar para o lado de cá dos ecrãs? Já muito se dissertou nas artes sobre o que aconteceria ao mundo se, sem pré-aviso possível, vida alienígena inteligente estabelecesse contacto. Umas hipóteses são catastrofistas, outras absurdas (lembro-me do Dia da Independência, em que Will Smith espeta um pêro num alien, antes de lhe atirar um pintarolas “welcome to Earth”), outras levantam questões linguísticas pertinentes (Ted Chiang fê-lo num conto literário, posteriormente adaptado ao cinema por Denis Villeneuve, em Arrival.

Talvez tenha chegado a hora de sermos realistas. Digo isto porque os Estados Unidos têm andado em polvorosa ao longo dos últimos meses com a divulgação de documentos outrora confidenciais da CIA sobre o avistamento de OVNIs ao longo das últimas décadas (). E, desta vez, o assunto tem sido tratado com a seriedade que merece. Porque, desta vez, há oficiais do Pentágono e ex-pilotos da Força Aérea a contar, ao vivo e na primeira pessoa, o que viram no exercício das suas funções. Até Obama falou do tema há dias.

Porque, afinal de contas, podem nem sequer ser alienígenas – é aliás uma das hipóteses menos prováveis. Mas o trabalho feito pela CIA desde os anos cinquenta, e agora admitido, pôs-nos a todos a ridicularizar quem quer que seja que levante a hipótese “aliens!” – isso acontecia, explicam-nos agora porque se temia que houvesse uma avalanche de informação falsa a reportar a chegada de extraterrestres, e isso não permitiria a investigação rigorosa aos casos que se sabiam reais.

Mesmo havendo provas de que há dispositivos voadores cuja origem não se conhece, a existência de vida extraterrestre continua a estar no domínio da crença. De um lado, estão os que defendem que, num universo tão vasto, é logicamente impossível que sejamos a única forma de vida inteligente que se conhece – e, mesmo assim, nem somos particularmente espertos. Recentemente, um cientista israelita tem vindo a levantar a hipótese (bem argumentada) de que Ouamuamua , o objecto inter-estelar que ainda não sabemos bem definir e que passou pertíssimo da Terra em 2017, era uma sonda de origem extraterrestre, já inactiva ou ainda em missão.

Em simultâneo, é um bocadinho estranho que ainda ninguém tenha dado conta da nossa presença, ou pelo menos que tenha dado sinais de vida. E é desse outro lado que estão os cépticos, entre os quais se contam os celebérrimos Neil de Grasse Tyson e Elon Musk, tendo este último dito que, se os extraterrestres existem, são preguiçosos como tudo, porque ainda não entraram em contacto connosco.

Seja como for, não é despropositado começarmos a pensar se, enquanto espécie, estamos prontos para estabelecer contacto com uma outra forma de vida inteligente. A resposta, temo bem, é não. E é por isso que o astrofísico Michio Kaku disse, há algumas semanas, que não é boa ideia andarmos pelo universo a dizer que existimos num planeta do sistema solar.

Primeiro, porque estamos e somos frágeis – a pandemia veio mostrá-lo -, e as nossas fissuras estão tão à vista que certo seria que boa parte da Humanidade, perante a notícia da chegada de extraterrestres, alvitrasse a hipótese de tudo isto ser uma cabala nascida da mente (e do dinheiro) de George Soros, que os extraterrestres eram mandatários de Bill Gates para nos implantar chips nos calcanhares ou que a verdade sobre a vida alienígena seria uma impossibilidade, porque a Terra plana não está suspensa num vazio negro e gélido, mas está antes a ser carregada às costas pelo Tartaruga Genial. 

Em segundo lugar, avisar extraterrestres de que esta é a nossa morada poderia desencadear uma tentativa de colonização do planeta, em busca de recursos – tal como aconteceu há coisa de quinhentos anos, quando o homem branco saiu da Europa para escravizar milhões e milhões de outros seres humanos, com os resultados trágicos que se conhecem e que ainda hoje se sentem. Mas agora que as entidades oficiais reconhecem e colocam a hipótese de andarmos a ser visitados por malta da qual nunca ouvimos falar, impõe-se alguma preparação política, todavia, não vão os vizinhos tocar à porta e apanhar-nos de ceroulas.

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