Primeira linha: livro homenageia os heróis da pandemia

O livro “Primeira Linha” reúne 150 testemunhos de profissionais de saúde de várias nacionalidades e outras personalidades e é uma iniciativa conjunta da Ordem dos Médicos e da Astellas. São testemunhos na primeira pessoa com histórias sobre a forma como viveram estes meses de pandemia de covid-19. Conversámos com três dos participantes nesta obra.

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O que sentiram os médicos e as equipas que trabalham na área da saúde durante a pandemia? Que consequências trouxe o confinamento e que impacto poderá ter no futuro? “O que sabíamos é que a pandemia poderia afectar os nossos doentes e, eventualmente, poderiam morrer pela infecção, mas também sabiam que tinham uma doença que era potencialmente letal e que tinha de ser tratada”, explica Luís Costa, director do serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN). Foi, então, preciso tomar decisões e concretizar um plano de acção concertado com a participação de todos os colegas.

Ao mesmo tempo, era preciso contactar os doentes. “Era fundamental que disséssemos aos doentes como deviam aceder ao Serviço, como como é que deveríamos tratar deles, que condições eram necessárias para que viessem ao serviço, porque é que não podiam vir tão acompanhados como vinham antes e assegurar que tínhamos a segurança que era possível e necessária para conseguirmos continuar os tratamentos”, explica o médico oncologista. Um ano depois, Luís Costa denota que houve um burnout acrescido sobre os profissionais de saúde porque tiveram de lidar com o inesperado. “Actualmente, estamos todos vacinados e já não existe tanto medo da contaminação, mas, na altura, sabíamos que podíamos ser contaminados e levar a infecção para casa.”

A questão do medo esteve sempre presente no começo desta crise sanitária mundial. Luís Abranches Monteiro é presidente da Associação Portuguesa de Urologia (APU) e refere que a imprevisibilidade condicionava a prática clínica. “Lembro-me que tivemos de parar com algumas avaliações de doentes neoplásicos por exemplo, ou referentes a doenças que, apesar de não serem letais, perturbam a qualidade de vida e que parámos completamente de tratar, por exemplo, as incontinências urinárias, até as retenções urinárias”, explica o presidente da APU acrescentando “os doentes com hiperplasia benigna da próstata que ficaram completamente sem avaliação, mas eu lembro-me de ter pensado que dois ou três meses de atraso não seriam um problema acrescido.”

Apesar dos piores cenários vividos em Itália não se terem verificado em Portugal, passaram-se seis a oito meses com algumas patologias por vigiar. “Da minha experiência num hospital público em Lisboa creio que posso afirmar que ninguém ficou para trás, pela parte dos serviços. Mas também é verdade que os próprios pacientes tiveram durante muito tempo medo de sair à rua e de se deslocarem aos hospitais e assistimos também a muitas consultas marcadas em que os pacientes faltavam”, explica Luís Abranches Monteiro.

Os doentes foram os heróis

Luís Costa não tem dúvidas de que os doentes foram os heróis desta pandemia. “Foram fantásticos em compreender que vinham fazer tratamentos complicados e que não podiam vir acompanhados por quem mais gostavam, em perceber que estávamos a fazer o que era possível para que mantivessem os tratamentos e em terem de fazer mais exames do que aqueles que eram habituais”.

Ultrapassadas algumas questões iniciais, como a escassez de equipamentos de protecção individual, o segundo confinamento trouxe novas exigências em relação ao primeiro, tais como, doenças que ficaram por diagnosticar ou que começam a chegar mais tarde e com um prognóstico mais reservado. “Temos novos doentes. São doentes que muitas vezes não foram fazer os exames habituais e infelizmente já têm doenças em estadio avançado. É um problema com o qual temos de lidar e eu diria que é uma dificuldade actual na doença oncológica e que é resultante desta pandemia”, refere Luís Costa. Por outro lado, outras doenças igualmente graves continuam a afectar pessoas que tiveram medo de ir ao hospital, como por exemplo, as doenças cardiovasculares. 

Uma justa homenagem

A ideia deste livro surgiu por parte da Astellas Portugal. “Temos um conjunto de profissionais que no dia-a-dia trabalha com profissionais de saúde, sobretudo médicos e farmacêuticos, que foram ouvindo as suas histórias”, explica Filipe Novais, director-geral da Astellas. Assim nasceu a ideia de criar um livro que reunisse testemunhos reais, contados na primeira pessoa, permitindo perpetuar histórias de profissionais de saúde que estiveram e continuam a estar na linha da frente contra um vírus sem igual.

Ao mesmo tempo que dá a conhecer os bastidores dos cuidados de saúde na luta contra a pandemia, esta obra “é uma homenagem aos profissionais de saúde que estiveram na primeiríssima linha”, já que “as homenagens nunca são demais porque vivemos, de facto, uma época única”, refere Filipe Novais. 

O livro “Primeira Linha” está disponível online e de forma gratuita para todas as pessoas no website da Astellas Portugal.


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