Primeiro grande cruzeiro pós-covid deixa Veneza entre protestos dos defensores do centro histórico

O sector estima que o negócio dos cruzeiros represente mais do que 3% do PIB de Veneza.

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Protestos contra o primeiro grande navio cruzeiro que chegou a Veneza Reuters/MANUEL SILVESTRI
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Os protestos em terra LUSA/Andrea Merola
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Cruzeiro
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O primeiro grande cruzeiro a deixar Veneza desde que foram aliviadas as restrições relativas à pandemia partiu este sábado, mas alguns residentes locais protestaram com este regresso ao normal, descontentes com a passagem do navio na histórica cidade da laguna.

Centenas de pessoas reuniram-se em terra e a bordo de pequenos barcos com cartazes com a frase “Não navios grandes”. Os barcos rodearam e seguiram o MSC Orchestra, de 92 mil toneladas, enquanto o navio partia do porto de Veneza em direcção à Croácia e à Grécia. “Estamos aqui porque somos contra esta passagem, mas também contra o modelo de turismo que está a destruir a nossa cidade, afastando os residentes, destruindo o planeta, as cidades e poluindo”, disse Marta Sottoriva, uma professor de 29 anos e habitante de Veneza.

Mas as autoridades e trabalhadores portuários, tal como os responsáveis pela cidade, saudaram o grande cruzeiro, operado pela empresa MSC Cruises, vendo-o como um símbolo do regresso de um negócio, depois da crise sanitária que atingiu fortemente a indústria dos cruzeiros e o sector das viagens.

“Estamos contentes por estar de volta… por reiniciar os motores. Preocupamo-nos muito com Veneza e há muitos anos que pedimos uma solução sustentável e estável para os navios” afirmou Francesco Galietti, o director italiano do grupo empresarial Cruise Lines International Association (CLIA).

Alguns habitantes há anos que pedem aos sucessivos governos para impedirem os grandes cruzeiros de passarem na laguna e atracarem próximo da famosa Praça de São Marcos, o centro de uma cidade que é património da Humanidade. Os activistas preocupam-se com a segurança e o ambiente, incluindo a poluição e a erosão subaquática numa cidade já em perigo por causa da subida do nível das águas.

“A luta é muito longa. Acho que estamos contra interesses financeiros muito grandes”, afirmou Marco Baravalle, um investigador de 42 anos, e membro do grupo No Grandi Navi (Não navios grandes). Eles e outros manifestantes receiam que “tudo volte atrás, ao que era antes da pandemia”.

Em Abril, o governo italiano decidiu que os grandes navios já não poderão atracar junto ao centro histórico da cidade. Ficou previsto que a circulação fosse desviada para o porto industrial (Marghera), até que seja encontrada — e construída — uma solução permanente de desembarque fora da lagoa.

O Orchestra não foi apenas escoltado pelos pequenos barcos de protesto, mas também por rebocadores que saudaram o navio com esguichos de água, uma tradição marítima reservada às ocasiões especiais.

O grande cruzeiro com 16 decks pode levar cerca de 3000 passageiros e mil tripulantes, mas para esta viagem vai navegar com metade da capacidade devido às regras de distanciamento social impostas pela covid-19.

“É um dia importante para nós, para cerca dos 4000 trabalhadores e muito outros que trabalham neste sector. Regressamos depois de mais de 17 meses, finalmente há luz ao fundo do túnel”, disse Alessandro Santi, presidente do grupo empresarial Federlogistica, acrescentando que a comunidade portuária é favorável à proibição, mas têm que ser encontradas alternativas devido à importância do turismo para a cidade.

A CLIA estima que o negócio dos cruzeiros represente mais do que 3% do PIB de Veneza. 

“Veneza é onde começam e terminam muitos itinerários, o impacto económico em Veneza é enorme”, disse Galietti. “Se Veneza sair dos itinerários, todo o mar Adriático vai sofrer as consequências… terá um impacto enorme.”

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