Cidreira para Matos Fernandes, lentilhas para Temido e chá verde para a Educação. Os “presentes” da Zero no Dia Mundial do Ambiente

Zero quer que seja criado um mecanismo nacional de compensação que obrigue à reabilitação de uma área do território, por cada projecto de artificialização que venha a ser implementado

Foto
O aumento de vastas áreas ocupadas por painéis solares é uma das razões para preocupação Miguel Manso

As ofertas já começaram a seguir e devem estar a chegar à mesa de alguns governantes: chá de erva-cidreira para o ministro do Ambiente, lentilhas para a da Saúde, mel para a ministra da Coesão Social. São produtos nacionais e biológicos oferecidos pela Zero, todos com um objectivo ambiental por trás. No Dia Mundial do Ambiente, a associação chama a atenção de alguns problemas através desta iniciativa, ao mesmo tempo que propõe, a nível nacional, a criação de um mecanismo de compensação para cada área do território ocupada de modo artificial.

Lembrando que este dia assinala o lançamento da Década das Nações Unidas do Restauro de Ecossistemas, a Zero argumenta que, por cá, as políticas públicas têm sido marcadas “pela inoperância na fiscalização e regulação das actividades económicas susceptíveis de degradarem ou destruírem os ecossistemas”, apesar de alguns “investimentos pontuais nas áreas classificadas com vista à recuperação de habitats.”

E exemplo dessa “inoperância”, defendem em comunicado, são o avanço de “uma agricultura industrial que não é compatível com a manutenção da biodiversidade, o recrudescimento de projectos imobiliário-turísticos junto à faixa costeira ou a instalação de vastas áreas de equipamento de produção de energia renovável”, salientam, afirmando que “nem a Rede Natura 2000 parece estar a salvo” de investimentos relacionados com os dois primeiros casos.

Perante o que classifica como um “cenário preocupante”, a Zero propõe que seja criado um mecanismo de compensação à escala nacional, similar ao que já é aplicado desde 2010 à indústria extractiva no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.

Ou seja, a “obrigatoriedade de dar previamente início ao processo de recuperação de uma área degradada sempre que seja licenciada ou ampliada uma actividade económica susceptível de alterar o uso do solo no sentido da sua artificialização.” A Zero quer que seja “obrigatória a recuperação de uma área degradada sem uso económico com pelo menos o dobro da área que irá ser artificializada, estabelecendo-se uma área igual a recuperar sempre que o restauro ocorra em área classificada.”

E numa espécie de operação de charme para cativar alguns dos governantes que podem influenciar, de forma positiva, diversas áreas relacionadas com o ambiente, a Zero decidiu marcar o dia enviado ofertas simbólicas a vários membros do Governo.

Os produtos nacionais e biológicos foram escolhidos a dedo para passarem uma determinada mensagem. João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Acção Climática, tem direito a um chá de erva-cidreira (habitualmente identificado com um produto calmante), par o ajudar a ter “serenidade e ponderação” nos diversos desafios que tem pela frente, bem como - ironiza a Zero, que tem tido com o governante várias divergências em relação a alguns indicadores ambientais - “a tolerância necessária para acolher e aceitar contributos e pontos de vista diferentes da sociedade civil organizada.”

O ministro da Educação também recebe um chá, mas verde, que “ajuda a manter um estado de alerta mental”, e que deverá ajudá-lo a investir mais na educação ambiental e para a sustentabilidade. Marta Temido, pela Saúde, recebe lentilhas, para sensibilizar os portugueses a mudarem a sua dieta, promovendo maior consumo de leguminosas, e o ministro do Mar tem direito a cavala em conserva em azeite biológico, lembrando-o que há que cuidar dos stocks de pescado, investindo mais no consumo de produtos apanhado na nossa costa e sob menor pressão.

Já a ministra Agricultura pode levar para casa uma garrafa de azeite, que pretende ser uma lembrança de que não deve “voltar a subsidiar a industrialização agrícola e a artificialização dos territórios, canalizado os apoios comunitários para a promoção para modos de produção agro-ecológicos”, enquanto a sua colega da Coesão Social tem direito a um frasco de mel. Com esta oferta, a Zero pretende desafiar Ana Abrunhosa a implementar “verdadeiras estratégias de desenvolvimento local de base comunitária, considerando as especificidades dos territórios e a participação das populações na sua definição”, que a Zero diz ser “a única forma de travar o despovoamento e o empobrecimento das comunidades do interior do país.”

Sugerir correcção
Comentar