Novo Banco: “Evitei a operação com o senhor Greg Lindberg” na venda da GNB Vida

José Almaça, antigo presidente do supervisor dos seguros, saiu a meio da operação de venda da GNB Vida. Aos deputados contou que evitou a operação com o milionário a braços com a justiça, mas disse nada saber sobre os contornos do fecho do negócio.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O antigo presidente do regulador dos seguros disse esta sexta-feira que foi por sua iniciativa que foi travada a operação de venda da companhia GNB Vida a Greg Lindberg, cujos problemas com a justiça levou à substituição do comprador da seguradora do Novo Banco. José Almaça mostrou, no entanto, não ter conhecimento do que aconteceu depois na venda da companhia aos fundos da Apax, sobre a qual subsistem as dúvidas acerca dos últimos beneficiários do negócio. 

Em resposta aos deputados na comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco, o ex-presidente da Autoridade de Supervisão e Seguros e Fundos de Pensões (ASF) afirmou que participou antes no processo de venda da seguradora mas não a acompanhou até ao fim, porque saiu do cargo que ocupava entretanto. “Evitei a operação com o senhor Greg Lindberg. Fui eu que evitei isso. Fui ao Luxemburgo falar com o supervisor. Levantei essa questão lá para Março ou Abril” de 2019. 

Questionado sobre o acompanhamento que foi dado ao processo de venda, José Almaça acrescentou: “Isso já não foi comigo. Esse processo iniciou-se lá por Maio de 2019”. Almaça disse ainda que na altura foi enviada uma “carta para o supervisor no Luxemburgo para ele saber o que eles estavam a fazer relativamente ao senhor Lindberg porque a sociedade tinha sede no Luxemburgo”. “Recordo que foi para lá uma carta a perguntar e depois...15 dias depois deixei” as funções que tinha. 

A auditoria especial da Deloitte, conhecida este ano e que incide sobre os actos de gestão do Novo Banco em 2019, concluiu que não são conhecidos os investidores que detêm os fundos ligados à sociedade de investimento Apax Partners. Ou seja, não são conhecidos os verdadeiros donos da GNB Vida. O PÚBLICO noticiou a 15 de Agosto de 2020 que os novos donos da GNB Vida mudaram-se para a morada das empresas do magnata, multimilionário norte-americano, Greg Lindberg. 

Comentando esta operação, a ASF disse nessa altura ao PÚBLICO que na avaliação da idoneidade dos intervenientes do negócio, “nas múltiplas diligências efectuadas, antes e após a referida deliberação de não oposição, não apurou qualquer ligação entre Greg Evan Lindberg e o grupo adquirente da GNB, sociedade que, entretanto, alterou a sua designação social para GamaLife”. 

O deputado do CDS Fernando Alves Pereira adiantou que a venda da GNB Vida pelo Novo Banco, por 120 milhões de euros, teve um “impacto de quase 340 milhões de euros para o Fundo de Resolução” que foi compensado no âmbito da chamada de capital feita pelo Novo Banco que em 2020 (por conta de 2019) foi de 1035 milhões de euros.  

Sobre a venda da Tranquilidade, José Almaça contou que a companhia estava “descapitalizada” e “em incumprimento”, o que justificou a necessidade de encontrar um accionista, visto que o Novo Banco não tinha forma de injectar capital na companhia de seguros, para não perder a autorização de funcionamento no mercado dos seguros. 

A companhia tinha 1,8 mil milhões de euros de activos que estavam a perder valor. “Daí a razão de ter de se encontrar um accionista com quem se pudesse falar”, disse, negando que a companhia tivesse sido vendida por cerca de 40 milhões de euros. “Foi mais”, afirmou, acrescentado que quem comprou “pôs lá 215 milhões de euros” e que a companhia foi “engordada com a Açoreana” anos mais tarde. A companhia, que depois foi vendida à Apollo por cerca de 600 milhões - o que tem levantado dúvidas aos deputados -, passou a ser uma companhia “mista”, salientou. “Não é função do supervisor nem avaliar, nem vender companhias”, referiu. 

A companhia foi alienada ao fundo Apollo em 2014 por 40 milhões de euros, que, por sua vez, a vendeu à Generali, em 2019, por um valor muito superior, de 600 milhões de euros.     

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