Vacina da Janssen pode vir a ser dada sem limite de idade aos homens

Os dados mais recentes dos EUA sugerem que o risco de aparecimento dos casos muito raros de formação de coágulos associados a diminuição no número de plaquetas é substancialmente inferior nos homens.

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Nuno Ferreira Santos

Numa altura em que a vacinação das pessoas a partir dos 50 anos está a avançar com rapidez, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) pode vir a retirar a actual restrição etária na administração da vacina da Janssen mas apenas no caso dos homens, adiantou esta quarta-feira coordenador do grupo de trabalho (task force) para o plano de vacinação contra a covid-19.

“A DGS está a preparar uma alteração muito significativa. A vacina estava limitada a pessoas acima dos 50 anos e o que os novos dados trouxeram é que o risco, apesar de muito baixo - um em um milhão -, estava essencialmente concentrado no sexo feminino abaixo dos 50 anos. O que se vai fazer é tirar essa limitação ao sexo masculino”, disse o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, citado pela Lusa. O coordenador especificou que as decisões deverão estar operacionalizadas dentro de “uma semana e meia" e ainda chegarão a tempo, uma vez ainda está em curso a vacinação da população acima dos 50 anos, que não é afectada por esta restrição.

No final de Abril, Portugal, à semelhança de outros países europeus, decidiu recomendar a administração do fármaco de dose única da Janssen (farmacêutica do grupo Johnson & Johnson) apenas a pessoas a partir dos 50 anos, depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) ter concluído que existe uma “possível ligação” entre a formação de coágulos sanguíneos e a redução acentuada de plaquetas e a toma desta vacina.

Acabar com a restrição etária no caso dos homens é uma hipótese que está a ser ponderada pelo grupo de peritos que aconselha a directora-geral da Saúde, a comissão técnica de vacinação contra a covid-19,  soube o PÚBLICO. É um dos vários cenários possíveis e está a ser analisado tendo em conta os últimos dados disponíveis nos EUA, onde a vacina da Janssen já tinha sido administrada a mais de oito milhões de pessoas no início de Maio. Mas a DGS não comentou, por enquanto, as declarações de Gouveia e Melo.

Os dados mais recentes dos EUA, e que foram divulgados em 12 desse mês, sugerem que o risco de aparecimento destes casos muito raros de formação de coágulos associados a diminuição no número de plaquetas (uma síndrome agora conhecida como trombocitopenia trombótica induzida por vacina) é substancialmente inferior nos homens.

Segundo estes dados que foram avaliados pelo Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP), grupo de especialistas que aconselha o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) norte-americano, até 7 de Maio passado tinham sido identificados 28 casos desta síndrome no conjunto das mais de 8,7 milhões de pessoas vacinadas. Três foram fatais.

A maior parte (22) ocorreu em mulheres entre os 18 e os 49 anos, tendo sido reportados 14.4 casos por milhão de vacinados nas mulheres entre os 30 e os 39 anos e 9.4 casos por milhão de vacinados, entre os 40 e os 49 anos. Nos seis casos reportados em homens, considerando as mesmas faixas etárias, as proporções foram de 1.4 e 1.3 por milhão de vacinados, respectivamente. Os sintomas surgiram entre uma a duas semanas após a vacinação.

Se a DGS decidir acabar com a restrição etária nos homens, pelas contas do coordenador da task force, será possível “dar a vacina ainda a um bom milhão ou milhão e meio de portugueses”. Tendo em conta o actual ritmo de vacinação e uma vez que em breve deixará de haver menores de 50 anos para serem inoculados, o vice-almirante tem enfatizado que Portugal corre o risco de “desperdiçar” uma grande quantidade de vacinas, cerca de “3,6 milhões de doses”, de acordo com as suas últimas estimativas.

Segundo o último relatório semanal divulgado esta terça-feira pela DGS, são mais de 3,7 milhões as pessoas inoculadas com uma dose, das quais mais de 1,9 milhões já completaram a vacinação. A população a partir dos 80 anos é, naturalmente, a que tem maior taxa de vacinação (91% com as duas doses), seguida pelos cidadãos entre os 65 e os 79 anos (93% com pelo menos uma dose da vacina) e entre os 50 e os 64 anos (52% com pelo menos uma dose da vacina).

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