Governo canadiano pressionado para investigar mais valas comuns de crianças indígenas

A descoberta de uma vala comum com 215 crianças causou indignação no país. Bandeiras a meia haste e sapatos de crianças expostos junto a edifícios públicos prestam homenagem às vítimas.

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Brinquedos e pares de sapatos de crianças foram dispostos em frente à antiga Kamloops Indian Residential School onde a vala comum foi descoberta DENNIS OWEN/Reuters

Os povos indígenas do Canadá estão a apelar a uma investigação minuciosa em todas as antigas escolas residenciais do país em busca de valas comuns, depois de terem sido descobertos na semana passada os restos mortais de 215 crianças numa antiga escola destinada à “integração” de crianças indígenas.

Os líderes da comunidade Tk'emlúps te Secwépemc de Kamloops, na província da Colúmbia Britânica, reforçaram a necessidade de responder às questões em torno da descoberta dos restos mortais. Em todo o país as comunidades indígenas estão a trabalhar para que se inicie uma investigação sobre a existência de mais valas comuns, disse o grande chefe Stewart Philip, presidente da União dos Chefes Indígenas da Colúmbia Britânica.

“É absolutamente fundamental que seja aberto um programa nacional para investigar minuciosamente todas as escolas residenciais em relação às valas comuns”, disse Philip.

A notícia gerou indignação nacional no Canadá, com bandeiras a meia haste e a exposição de centenas de sapatos de crianças em praças públicas, locais governamentais e em escadarias de igrejas, numa referência ao papel das igrejas católicas que dirigiam as escolas.

“Infelizmente, este caso não é uma excepção ou um caso isolado”, lamentou o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau na segunda-feira. “As escolas residenciais eram uma realidade, uma tragédia que existiu aqui, no nosso país, que temos de reconhecer”. Investigar a existência de mais valas comuns é “uma parte importante na descoberta da verdade”, continuou.

A Nação Tk'emlúps te Secwépemc anunciou na semana passada que tinham sido encontrados os restos mortais de 215 crianças, algumas com apenas três anos, enterradas nas imediações da Kamloops Indian Residential School, então a maior escola do sistema de escolas residenciais canadiano.

Entre 1831 e 1996, o sistema de escolas residenciais forçou a separação de crianças indígenas das suas famílias com o propósito de as assimilar à cultura europeia, sujeitando-as a vários tipos de abusos e de malnutrição, o que constitui um “genocídio cultural”, segundo uma investigação de 2015. O relatório apurou a morte de mais de 4100 crianças enquanto frequentavam as escolas residenciais.

Há muito tempo que dentro das comunidades indígenas se falava em crianças enterradas nestas escolas. Como descreveu a líder do Tk'emlúps te Secwépemc, Rosanne Casimir, era uma “perda inconcebível de que se falava, mas que nunca fora documentada”.

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