O que faz uma criança feliz? Sete respostas curtas para uma pergunta difícil

A propósito do Dia Mundial da Criança, o PÚBLICO perguntou a pais e a especialistas o que é preciso para ter os miúdos felizes.

Foto
O Dia Mundial da Criança, celebrado a 1 de Junho, foi instituído em 1950 Nuno Ferreira Santos

Tantas vezes ouvimos a expressão “é preciso pouco para fazer uma criança feliz”. A pergunta é curta, mas as respostas não são simples, nem lineares – o que faz uma criança feliz? A propósito do Dia Mundial da Criança, o PÚBLICO perguntou a pais e a especialistas o que é preciso para ter os miúdos felizes. As respostas variam, mas numa coisa todos parecem estar de acordo: a felicidade dos mais pequenos depende dos mais velhos. 

Foto
Barbara Ramos Dias com os filhos DR

“É ter os pais como porto seguro”
Bárbara Ramos Dias, psicóloga especialista em crianças e adolescentes

O que faz uma criança feliz é ver os seus pais felizes. É ter colo, ser abraçado, receber elogio por ter conseguido ter positiva, ver televisão em família, passear em família, jogar jogos de tabuleiro em família, brincar, sujar, ser livre, ser criança, ser ele próprio. É ter a casa como o seu castelo de conforto, é ter os pais como porto seguro, e não como um inferno de gritos. É amar e ser amado com muitas regras e firmes, mas também com muito amor, colo e muitas pepitas de alegria.

Foto
Isabel Stilwell é autora de romances históricos Nuno Ferreira Santos

“É virar tudo do avesso”
Isabel Stilwell, escritora e jornalista, co-autora das Birras de Mãe 

Uma ideia para fazer uma criança feliz? Regá-la com a mangueira do jardim, mas com os sapatos postos! Pronto, é provável que ao princípio pense que a avó enlouqueceu, mas depois vai ser invadida por um sentimento enorme de liberdade — de que tudo é possível. A certeza de que, muitas vezes, podemos virar tudo do avesso sem que daí venha mal ao mundo.

Foto
Hugo Rodrigues é autor de "O Livro do seu Bebé" CONTRAPONTO/MÁRIO SANTOS

“Ser crianças!”
Hugo Rodrigues, pediatra, autor de livros e do site Pediatria para Todos

O que as crianças mais precisam para serem felizes é de cuidadores adequados, emocionalmente envolvidos e (muito) carinhosos, que lhes dêem a confiança de que necessitam. Precisam de brincar, explorar o ambiente e passar por desafios que estimulem a sua criatividade e capacidade de se superarem todos os dias. Precisam de muito amor, mas também de regras para se sentirem seguras e com um genuíno sentimento de pertença. Precisam que não lhes coloquem expectativas demasiados elevadas e que não as encarem como adultos em “miniatura”, para poderem fazer aquilo que melhor sabem: ser crianças! E, para tudo isto, precisam de algo que todas as crianças devem ter: muito amor!

Foto
Carolina Vale Quaresma é autora do livro "Ajudem-me pais, quero dormir!" DR

“Pais felizes, filhos felizes”
Carolina Vale Quaresma, terapeuta familiar

Fazer uma criança feliz é mais simples do que parece e menos complicado do que fazemos. Quer conhecer a receita? Os “ingredientes-base” são: dormir bem, comer bem e que os seus pais sejam tranquilos e confiantes, por isso, o “recheio” passa por uma dose de confiança, bom senso e relaxamento. A confiança é dos ingredientes mais importantes em todo o processo. Foque-se nela e naquilo em que acredita. Siga o seu instinto, está quase sempre certo. A pitada de bom senso fará toda a diferença. Depois junte um pouco de relaxamento, de calma e tranquilidade. O dormir bem está na base de uma receita de sucesso para uma criança feliz. O foco nestes ingredientes é essencial para pais felizes, logo para filhos felizes e para relações saudáveis.

Foto
Madalena Sá Fernandes com as duas filhas DR

“Coisas pequenas que se fazem grandes”
Madalena Sá Fernandes, gestora de redes sociais e cronista do PÚBLICO

O que faz as crianças felizes são coisas pequenas que se fazem grandes. A ida ao supermercado, o castelo na areia, a espuma no banho. As pequenas surpresas: um pai que começa a dançar, uma mãe que faz um pino, uma avó que vai buscar à escola. E as pequenas doses de liberdade: apanhar uma flor, um passeio de bicicleta, uma festinha a um cavalo. As pequenas rotinas: a história antes de dormir, a bata antes da escola, a pasta de dentes de morango. As pequenas fugas à rotina: a música que se canta no carro, ir para a cama dos pais, vestir o casaco da Minnie. As pequenas sensações: desembrulhar o presente, chutar a bola, dizer adeus ao avião. As pequenas conquistas: o puzzle montado, calçar os sapatos, nadar sem braçadeiras. E, sobretudo, os pequenos mimos: o colo, o beijo e o abraço.

Foto
Carmen Garcia com os dois filhos DR

“Sujidade rima com liberdade”
Carmen Garcia, enfermeira, autora de A Mãe Imperfeitacronista do PÚBLICO

A liberdade. Olho para os meus filhos e vejo-os felizes sempre que correm livres pelo campo enquanto procuram insectos e malmequeres. Vejo-os felizes sempre que podem correr soltos enquanto riem alto e cantam a plenos pulmões. Os meus filhos são felizes quando se sujam, quando fazem “sopa de espinafres e chocolate” com a terra e as ervas do quintal e quando abrem “covas” para jogar ao berlinde. Às vezes olho para eles antes do banho e vejo-os tão sujos e com as unhas tão cheias de terra que quase me assusto. Mas depois lembro-me que aquela sujidade rima com liberdade, encolho os ombros e está tudo bem. Se houver amor e liberdade, está sempre tudo bem.

Foto
O pediatra Mário Cordeiro é autor de diversos livros sobre bebés, crianças e adolescentes PÚBLICO/Arquivo

“Aprender a viver em liberdade”
Mário Cordeiro, médico e professor de Pediatria 

​O que faz uma criança feliz? Ter sido amada e ser amada. Ver as necessidades irredutíveis respondidas de forma cabal. Ter amigos e presença da família alargada. Ter limites e acesso ao ensino, mas ter lazer, cultura, promoção dos seus talentos, uma educação para a ética e para a estética. Aprender a ser frugal, a contemplar e defender a Natureza, os animais, as plantas. Aprender a ser solidário, empático e contemplativa e reflexiva. Viver num ambiente onde se rejeite a violência e se enquadre a agressividade. Aprender a amar e a gostar de viver, apreciando a vida até à sua última gota. Aprender a viver em liberdade e em democracia, numa cultura de paz.​

Sugerir correcção
Comentar