Está de regresso a banda do “primeiro espaço” da cultura cabo-verdiana em Lisboa

A banda Monte Cara, nome do clube criado por Bana em Lisboa em 1976, já se apresentou ao vivo no B.Leza no dia 27 de Maio e quer gravar um disco com recurso a crowdfunding.

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Bana (1932-2013), o criador do clube Monte Cara PAULO RICCA

A ideia foi do músico e programador Alcides Nascimento, filho de Bana (1932-2013), o célebre cantor cabo-verdiano que ficou conhecido como “Rei da Morna”: promover uma angariação de fundos para trazer de volta ao activo a banda residente no clube e restaurante Monte Cara, que Bana criou em 1976 em Lisboa, perto do Largo do Rato, e que foi até 1991 um espaço e ponto de encontro obrigatório da música e da cultura cabo-verdiana em Portugal. O projecto chama-se “Re: Imaginar Banda Monte Cara - A semente da cultura africana em Portugal” e a recolha de fundos, que prossegue até 17 de Junho, começou no início de Maio. Reforçando o pedido de apoio (para voltarem a estúdio serão necessários 4500 euros e o montante recolhido ainda está longe disso), a banda Monte Cara apresentou-se ao vivo no B.Leza, na noite de 27 de Maio.

Num vídeo que apela à participação neste projecto, o cantor Leonel Almeida (um dos primeiros músicos que, juntamente com Paulino Vieira ou Armando Tito, entre outros, integraram a banda do clube a convite de Bana), refere-se ao Monte Cara como “um autêntico laboratório musical”, que depois ampliou os seus frutos à diáspora. Por seu turno, Alcides Nascimento afirmou à agência Lusa que o clube era “acima de tudo uma incubadora de artistas e músicos africanos”, descrevendo-o como “o primeiro espaço da cultura de Cabo Verde em Portugal, que, para além de clube, foi importante para o aparecimento de jovens músicos que popularizaram a música de Cabo Verde no mundo, como Tito Paris, Paulino Vieira, Cesária Évora e o próprio Bana.”

No comunicado em que se anuncia o regresso da banda e o processo de crowdfunding, o Monte Cara é recordado como “um espaço de reencontro para os músicos que chegavam a Lisboa com o desejo de apresentarem o melhor das sonoridades e tradições das suas ilhas, assumindo um papel indelével na popularização da cultura dos países africanos de língua oficial portuguesa.” E refere que foram ali acolhidos, “ainda jovens”, “nomes hoje consagrados como Armando Tito, Celina Pereira, Cesária Évora, Fantcha, Paulino Vieira, Tito Paris, Toy Vieira”, entre outros.

“Vamos retomar os nossos lugares na banda do Monte Cara e vamos começar a gravar um disco com grandes sucessos da época”, diz, no vídeo já referido, o cantor Leonel Almeida, que integra a renascida banda do Monte Cara juntamente com Manuel Paris (baixo), Zé António (guitarra) e Toy Paris (bateria e percussão), aos quais se juntaram, ainda segundo as suas palavras, “mais dois filhos queridos”: Toy Vieira (teclado e piano) e Tito Paris (arranjos musicais). Esta oportunidade de reunir a banda, disse ainda Leonel Almeida à Lusa, será também uma forma de “matar saudades”: “Muita coisa mudou, agora somos todos cotas, mas a alma está cá”.

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