Como queremos formar os nossos médicos?

A par da necessidade da integração dos cursos de medicina com as realidades locais onde se encontram inseridos, a assimetria de recursos a nível mundial e a crescente internacionalização de todos os trabalhadores exige que os alunos estejam preparados para enfrentar uma diversidade de realidades.

No princípio do século XX foram elaborados três relatórios seminais que determinaram o ensino da medicina no mundo moderno. Estes relatórios estabeleceram as fundações do curso de medicina como agora o temos: os anos iniciais constituídos por estudos biomédicos pré-clínicos seguidos de anos de treino clínico. Como resultado, o ensino da medicina passou de um modelo de aprendizagem prática para um modelo académico, gerando-se para tal os centros médicos académicos.

A evolução tecnológica e a internacionalização do corpo laboral levaram com que a atenção internacional se voltasse novamente para o ensino da medicina no século XXI. Torna-se essencial preparar os futuros médicos para os desafios que irão enfrentar com o envelhecimento da população, a diversidade cultural, as doenças crónicas e as expectativas dos doentes e familiares. Sobressai a importância da aquisição de competências para além do conhecimento científico, sobretudo os cuidados centrados no doente, a interdisciplinaridade, a prática baseada na evidência, a melhoria continua, integração da saúde publica e utilização de novas tecnologias informáticas. Os médicos do século XXI deverão ter capacidade de investigação, gestão e liderança, bem como de aprendizagem ao longo de toda a sua vida. Adicionalmente, os currículos deverão integrar conhecimentos e experiências, ter flexibilidade para individualização do processo de aprendizagem, incluir programas cujos resultados possam ser avaliados.

A par da necessidade da integração dos cursos de medicina com as realidades locais onde se encontram inseridos, a assimetria de recursos a nível mundial e a crescente internacionalização de todos os trabalhadores exige que os alunos estejam preparados para enfrentar uma diversidade de realidades.

Perante os novos desafios e necessidades da nossa sociedade em evolução, o ensino moderno da medicina requer que os currículos sejam centrados em competências e não dominados por programas de estudos estáticos. Para além das competências clínicas, é necessário dotar os médicos de competências transversais, tais como comunicação, liderança e gestão, que permitem trabalho interprofissional e o espírito colaborativo. Os métodos de ensino, utilizando todo o potencial de tecnologia e recursos globais e variados disponíveis, devem fomentar a participação ativa do estudante na sua aprendizagem, estimulando a sua curiosidade, engenhosidade, pesquisa autónoma e reflexão.

Para tal, as escolas de medicina devem não só ter os recursos necessários para o ensino como participar ativamente no planeamento dos cuidados de saúde, em conjunto com as instituições nele envolvidas, tais como ministérios, associações profissionais e centros académicos. A inclusão cada vez maior dos cuidados primários de saúde na educação médica deverá andar lado a lado com colaborações internacionais com o objetivo de criar consórcios globais de educação.

Deste modo poderemos formar os médicos para a medicina do futuro, com uma cultura inquisitiva e critica, essencial para a investigação científica, com elevado sentido ético e de consciência cívica. Sobretudo formar médicos com capacidade de empatia com todos aqueles com quem lidam.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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