Rússia diz que vai enviar “sinais incómodos” aos EUA nos próximos dias

A duas semanas da cimeira entre Joe Biden e Vladimir Putin, Moscovo anuncia reforço militar na fronteira ocidental com a colocação de 20 unidades do exército até ao final do ano.

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Vladimir Putin numa reunião com as cúpulas militares russas em Sochi Reuters/SPUTNIK

A Rússia fez saber esta segunda-feira que vai enviar nos próximos dias o que descreve como “sinais incómodos” aos Estados Unidos, numa altura em que as duas potências planeiam a cimeira entre Vladimir Putin e Joe Biden, a 16 de Junho, em Genebra. Ao mesmo tempo, o Kremlin anunciou também que vai aumentar a presença militar na fronteira ocidental do país.

“Os americanos devem presumir que uma série de sinais a partir de Moscovo (...) serão incómodos para eles, inclusive nos próximos dias”, disse Sergei Ryabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, citado pela agência de notícias RIA Novosti.

Ryabkov afirmou que a Rússia estará preparada para responder às perguntas de Joe Biden sobre os direitos humanos na Rússia e disse que Moscovo está a ser mais flexível do que Washington na redacção da agenda para a cimeira.

“Há anos que os Estados Unidos impõem sanções unilaterais à Rússia, com base em diferentes argumentos. Apesar desse comportamento, a Rússia está disposta a dialogar”, acrescentou Ryabkov.

As declarações do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros coincidiram com o que aparenta ser uma ameaça por parte de outro alto responsável do Kremlin. Segundo a agência Interfax, o secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Nikolai Patrushev, avisou que a Rússia está preparada para utilizar a força para deter o que descreveu como “acções hostis” de outros países, sem precisar quais as acções e quais os países.

Não será, assim, coincidência que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, tenha anunciado esta segunda-feira que Moscovo se prepara para reforçar militarmente a sua fronteira ocidental até ao final do ano com a mobilização de 20 unidades do exército, no que classifica como uma resposta ao Ocidente.

“As acções dos nossos parceiros ocidentais estão a destruir o sistema de segurança mundial e a forçar-nos a tomar contra-medidas adequadas”, disse Shoigu, citado pela Interfax. “Cerca de 20 formações e unidades militares serão colocadas no Distrito Militar Ocidental até ao final do ano”, acrescentou.

Crise de confiança

O pessimismo russo quanto às relações com o Ocidente não se limita aos Estados Unidos. Também nesta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, afirmou que a Rússia e a União Europeia estão a atravessar “uma crise de confiança” e apelou ao diálogo.

“A situação das relações entre Rússia e a União Europeia [UE] continua a ser alarmante. Estamos a passar por uma crise de confiança sem precedentes”, sublinhou Lavrov numa conferência em que participou também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, que viajou até Moscovo para participar na 10.ª edição do encontro “UE-Rússia”.

“Estão a levantar-se novas linhas divisórias que avançam para leste e que se aprofundam como trincheiras na frente”, lançou Lavrov para quem o bloco europeu começou a distanciar-se da Rússia antes do “golpe de Estado na Ucrânia” de 2014, após o qual optou por substituir “a presunção de inocência pela presunção de culpa”.

O ministro da Defesa garantiu que Moscovo está disponível para “um diálogo aberto e em pé de igualdade” com o bloco europeu, mas não hesitará em responder a “novos passos hostis” de Bruxelas.

“Sabemos que na Europa muitos são conscientes de que a política de confronto com o nosso país é contraproducente e esperamos que finalmente prevaleça o bom senso e possamos começar a elaborar um novo modelo equilibrado de cooperação baseado no direito internacional”, acrescentou.

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