Coreia do Norte acusa EUA de “acto deliberado e hostil” ao permitir a Seul que desenvolva mísseis

Primeira reacção pública do Governo norte-coreano à cimeira entre Biden e Moon mostra que Pyongyang está aberta ao diálogo, diz especialista coreano.

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O Presidente norte-coreano, Kim Jong-un, inspecciona o míssil intercontinental balístico Hwasong-14 KCNA

A Coreia do Norte criticou esta segunda-feira os Estados Unidos por terem posto um ponto final às restrições ao desenvolvimento de mísseis por parte da Coreia do Sul, considerando-o um “acto deliberado e hostil” que poderá levar a uma “situação instável e extremada” na península da Coreia.

Esta declaração foi a primeira reacção pública de Pyongyang à cimeira de 21 de Maio em Washington entre o Presidente dos EUA, Joe Biden, e o seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in.

Os dois líderes acordaram em abolir as directrizes de 1979 que limitaram o desenvolvimento de mísseis com alcance até 800 km. O fim do pacto de mísseis, criado para evitar uma corrida regional ao armamento, aumenta a capacidade de Seul de atingir o Norte.

Ao mesmo tempo, põe algumas das grandes cidades chinesas potencialmente ao alcance dos mísseis sul-coreanos.

“A medida de rescisão faz-nos lembrar, de forma gritante, a política hostil dos EUA em relação à DPRK [República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte]”, diz a declaração divulgada pela Korean Central News Agency.

Em Abril, a Administração Biden completou uma revisão de vários meses à política dos EUA em relação à Coreia que procura evitar a abordagem de “grande pechincha” do antigo Presidente Donald Trump e a “paciência estratégica” do seu antecessor, Barack Obama, referiu a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.

Num discurso numa sessão conjunta no Congresso, em Abril, Biden caracterizou a sua abordagem como “diplomacia, assim como dissuasão dura”.

Biden também anunciou a nomeação do veterano diplomata Sung Kim para enviado especial para a Coreia do Norte na cimeira. As conversações sobre o programa nuclear da Coreia do Norte estão paradas desde 2019.

Na sua declaração de segunda-feira, atribuída a Kim Myong Chol, “crítico de assuntos internacionais” sem relações com o Governo, Pyongyang afirmou que Washington estava “absorvida pelo confronto apesar de se afirmar favorável ao diálogo”.

Ao não atribuir a mensagem a nenhum órgão do Governo, a Coreia do Norte está a “assinalar que ainda há espaço para o diálogo” com a Administração Biden, afirma Yang Moo-jin, professor da Universidade de Estudos Norte-coreanos de Seul.

A Coreia do Norte também está a lançar um “aviso de que pode entrar em confronto com os EUA e a Coreia do Sul sobre a revogação do pacto de mísseis”, acrescentou Yang.

“É uma asneira grave dos [EUA] pressionar a DPRK criando um desequilíbrio assimétrico na e em volta da península da Coreia”, escreveu Kim Myong Chol, o comentador norte-coreano. “O acto dos EUA de dar rédea solta aos mísseis da Coreia do Sul está feito para desatar [uma] corrida ao armamento… e ver o desenvolvimento da DPRK.”

O embaixador chinês na Coreia do Sul, Xing Haiming, afirmou que as directrizes de mísseis são um assunto bilateral entre Washington e Seul. “No entanto, não ficaremos quietos se isso prejudicar o interesse nacional chinês”, disse o diplomata aos jornalistas na semana passada.

Durante a cimeira, Biden e Moon também discutiram assuntos diplomáticos envolvendo a China, mas o comunicado conjunto emitido depois da cimeira evita referir directamente a crescente ameaça chinesa na região.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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