Ataques e ameaças contra judeus nos EUA atingem números “assustadores”

Nas duas semanas de bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, entre 10 e 21 de Maio, registaram-se mais 75% de ataques contra judeus nos EUA do que nas duas semanas anteriores. A Liga Anti-Difamação sublinha que a hostilidade já não é um exclusivo “da direita política”.

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Uma cruz suástica riscada na porta de uma sinagoga de Salt Lake City, no estado norte-americano do Utah KSLTV

Um pedido de desculpas do actor norte-americano Mark Ruffalo, por ter sugerido que Israel está a cometer genocídio nos territórios ocupados da Palestina, veio chamar a atenção para um aumento significativo do número de ameaças e ataques contra judeus nos EUA. Durante as duas semanas de bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, que fizeram pelo menos 129 mortos entre a população civil palestiniana, o número de episódios anti-semitas em território norte-americano cresceu 75% em comparação com as duas semanas anteriores.

“Estive a reflectir e quero pedir desculpa pelas mensagens que foram publicadas durante os recentes combates entre Israel e o Hamas, a sugerir que Israel está a cometer ‘genocídio’”, disse o actor, na segunda-feira, num curto comunicado partilhado na rede social Twitter

“Não é exacto, é inflamatório e desrespeitoso, e está a ser usado para justificar o anti-semitismo aqui e no estrangeiro. Esta é a altura certa para evitarmos o uso de hipérboles.”

À semelhança de outros nomes de Hollywood – como a actriz Susan Sarandon –, o actor Mark Ruffalo, de 53 anos, é conhecido pelas suas posições em defesa do povo palestiniano perante a ocupação israelita. 

Nos primeiros dias da mais recente explosão de violência na Faixa de Gaza, entre 10 e 21 de Maio, Ruffalo apelou à aplicação de sanções norte-americanas ao Governo de Israel, comparando a situação na região ao apartheid sul-africano.

“Estamos à beira de uma guerra aberta. As sanções contra a África do Sul ajudaram à libertação do seu povo negro – chegou a altura de aplicarmos sanções a Israel para libertarmos os palestinianos”, disse Ruffalo, no Twitter, no dia 15 de Maio.

Protestos anti-Israel

Por essa altura, na manhã de 16 de Maio, os frequentadores de uma sinagoga em Salt Lake City, no estado norte-americano do Utah, depararam-se com uma cruz suástica riscada na porta do edifício – um dos 222 casos registados de ataques anti-semitas nos EUA entre 10 e 21 de Maio, em comparação com 127 nas duas semanas anteriores.

“É o tipo de coisa que nunca pensámos que pudesse acontecer em Salt Lake City”, disse o rabi Avremi Zippel em declarações ao New York Times. “Mas há cada vez mais casos destes em todo o país.”

De acordo com a Liga Anti-Difamação – uma organização internacional com sede nos EUA que se dedica à denúncia de ataques contra judeus –, desde 16 de Maio foram registados 200 protestos anti-Israel nos EUA. “Apesar de muitas dessas manifestações terem sido pacíficas e sem linguagem anti-semita, alguns oradores, cartazes e cânticos incluíram mensagens que atacaram judeus e sionistas, ou usaram tropos anti-semitas”, lê-se no site da organização.

Em Salt Lake City, a segurança da sinagoga que os pais de Avremi Zippel fundaram na década de 1990 foi reforçada nas últimas semanas com mais guardas, câmaras de vigilância e postos de controlo, em resposta ao episódio de 16 de Maio. “É ridículo que tenhamos de fazer isto numa casa de culto nos Estados Unidos em 2021, mas é isso que faremos”, disse Zippel ao New York Times.

Ao mesmo jornal, o presidente executivo da Liga Anti-Difamação, Jonathan Greenblatt, disse que os casos de ameaças e ataques contra judeus “estão a acontecer de costa a costa e a alastrar-se como um incêndio florestal”.

“A audácia destes ataques faz com que a situação actual pareça ser diferente”, disse Greenblatt, salientando que os casos registados nas últimas semanas vão além do discurso de ódio e das ameaças que se tornaram visíveis após a eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA, em finais de 2016.

Durante quatro anos, a agressividade parecia estar a ser estimulada pela direita política, com consequências devastadoras”, disse o presidente da Liga Anti-Difamação, referindo-se ao assassínio de 11 pessoas numa sinagoga em Pittsburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia, em Outubro de 2018.​ “É por isso que os judeus estão tão assustados. Agora não vemos ninguém com bonés a dizer MAGA [Make America Greta Again, o slogan de campanha de Trump].”

O suspeito do ataque em Pittsburgh, há três anos, é um supremacista branco e negacionista do Holocausto, apoiante dos movimentos racistas que lideraram a marcha Unite the Right em Charlottesville, na Virginia, em Agosto de 2017 – durante a qual um dos manifestantes atropelou mortalmente uma contra-manifestante.

De acordo com os números da Liga Anti-Difamação – que assinala os casos de violência contra judeus desde 1979 –, dois dos três relatórios anuais com mais ataques registados nos últimos 41 anos foram publicados nos últimos três anos. Em 2020, foram registados mais de 1200 casos nos EUA – um aumento de 10% em relação a 2019.

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