Morreu Eric Carle, o autor e ilustrador de A lagartinha muito comilona

O escritor e ilustrador de livros infantis que são bestsellers mundiais tinha 91 anos e morreu no domingo, em Northampton, nos Estados Unidos. A sua obra está publicada em Portugal pela editora Kalandraka.

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Eric Carle Andrew H. Walker/Getty Images

 Eric Carle, autor e ilustrador do livro infantil A lagartinha muito comilona, que encantou gerações de crianças e pais, morreu aos 91 anos no seu estúdio de Verão em Northampton, Massachusetts, nos Estados Unidos. A sua obra está publicada em Portugal pela editora Kalandraka. 

A família disse que Carle morreu no domingo com os familiares ao seu lado, tendo o anúncio sido feito pela Penguin Young Leaders.

Autor de mais de 70 livros, Eric Carle começou a fazer ilustrações em 1967, depois de ter trabalhado numa agência publicitária. Nasceu nos Estados Unidos, mas estudou na prestigiada escola de arte Akademie der Bildenden Künste, na Alemanha, país onde residiu na sua infância. Em 1952 regressou aos Estados Unidos onde trabalhou como designer gráfico no The New York Times.

O primeiro livro que escreveu e ilustrou sozinho foi 1,2,3, to the Zoo (1968), ao qual se seguiu The Very Hungry Caterpillar que em Portugal se intitula A lagartinha muito comilona. Este é o livro mais conhecido de Eric Carle, vendeu mais de 55 milhões de cópias em todo o mundo desde que foi publicado pela primeira vez em 1969.

Originalmente concebido como um livro sobre um leitor ávido - chamado A Week with Willi the Worm - o herói, que se alimenta de 26 alimentos diferentes, foi transformado em lagarta a conselho do editor de Eric Ca. Vendeu cerca de 40 milhões de cópias e foi traduzido para 60 idiomas, gerou lagartas de animais empalhados e foi transformado em uma peça de teatro.

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Eric Carle e a sua lagarta comilona Jonathan Wiggs/The Boston Globe via Getty Images

“Lembro-me de que, quando criança, sempre achei que nunca cresceria e seria grande, articulado e inteligente”, disse Carle ao The New York Times em 1994. Através de livros como Brown Bear, Brown Bear, What Do You See?, Você quer ser meu amigo? Da cabeça aos pés, Carle introduziu temas universais em palavras simples e cores brilhantes.

“O desconhecido muitas vezes traz medo com ele”, observou certa vez.

“Nos meus livros tento neutralizar esse medo, substituí-lo por uma mensagem positiva. Acredito que as crianças são naturalmente criativas e ansiosas por aprender. Quero mostrar que aprender é realmente fascinante e divertido”.

Em 2003, recebeu o prestigiado prémio Laura Ingalls Wilder (agora chamado Children"s Literature Legacy Award ) da American Library Association, que reconhece autores e ilustradores cujos livros criaram uma contribuição duradoura para a literatura infantil.

A Academia Americana de Pediatria enviou mais de 17 mil cópias do livro para pediatras e juntou-lhe gráficos de crescimento e sebentas para os pais sobre alimentação saudável. O seu colega escritor e ilustrador Ted Dewan considerou este livro “um dos pilares da cultura infantil”. 

Carle escreveu e/ou ilustrou mais de 75 livros, às vezes em parceria com Bill Martin Jr. e com outros autores.

Um de seus últimos livros é  The Nonsense Show, de 2015, cuja história tem peixes voadores, ratos domadores de gatos e animais de circo.

Os seus pais alemães foram viver para Syracuse, Nova Iorque, nos Estados Unidos, mas Carle e sua família regressaram à Alemanha - Alemanha nazi, na época - quando o escritor tinha seis anos. Durante o nazismo a arte moderna, expressionista e abstracta foi proibida sendo apenas permitida a arte realista e naturalista. Quando Carle tinha 12 ou 13 anos, um professor de arte mudou a sua vida, convidando-o para ir à sua casa para lhe mostrar em segredo obras de arte expressionista, entre as quais o Cavalo Azul, de Franz Marc.

“Eu estava habituado a pinturas bonitas em que aparecia uma montanha ao fundo. Embora tenha ficado chocado, nunca esqueci aquele dia no meu coração “, disse Eric Carle à NPR em 2011.

Como ilustrador, disse que escolheu retratar animais em cores não convencionais para mostrar aos seus jovens leitores que na arte não há cores erradas, tendo agradecido a Franz Marc nas páginas de O Artista que Pintou um Cavalo Azul.

A técnica de ilustração que é característica do seu trabalho é realizada por ele juntando imagens, principalmente de papel de seda, que pintou com várias cores e texturas. “Parece piegas, mas acho que me consigo conectar com a criança que há em mim, e acho que isso acontece aos outros também”, disse ele à Associated Press em 2003.

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