John Oliver lança produto falso para revolucionar sexo. Televisões mordem o isco

O cobertor sexual foi inventado por John Oliver, pivô do Last Week Tonight, com o objectivo de provar como é simples publicitar qualquer produto nas televisões locais norte-americanas.

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As estações de televisão já reagiram e prometem rever as políticas de avaliação do conteúdo pago Youtube/Last Week Tonight

O humorista John Oliver dedicou o último programa Last Week Tonight aos conteúdos pagos nos programas de notícias locais nos EUA, com o objectivo de provar como é fácil promover qualquer produto nesses segmentos. Como conseguiu provar o seu argumento? O próprio criou um produto falso com “promessas bizarras” que chegou a três estações de televisão.

O “véu de Vénus”, criado pelas Invenções Vénus, prometia ser “o primeiro cobertor sexual e de bem-estar do mundo” — soava tudo perfeito, excepto o facto de ser uma mentira. A produção do Last Week Tonight fez um site para o produto e contratou uma actriz que promoveu o “produto-maravilha” nos vários programas de televisão em que foi aceite. Depois de mostrar vários exemplos de segmentos publicitários nos programas de notícias locais, John Oliver fez a revelação: “É demasiado fácil fazer um produto ridículo com promessas bizarras e pô-lo na televisão local. E eu sei porque nós fizemo-lo.”

A ABC4 do Utah foi uma das estações que morderam o isco lançado pelo humorista. John Oliver contou como foi fácil pôr no ar o “véu de Vénus”. A actriz contratada foi até entrevistada pela especialista em saúde do canal e, mesmo assim, passou no teste com distinção, já que a entrevistadora não duvidou de nenhuma das suas alegações — nem mesmo da “tecnologia de ponta” do cobertor, supostamente inventada na Alemanha há 80 anos. “Eu teria algumas questões sobre esse período em particular da história alemã”, brincou John Oliver.

Também a KVUE de Austin, no Texas, caiu na armadilha. A publicidade ao cobertor foi para o ar num segmento de notícias, que, pouco antes, tinha emitido uma reportagem sobre o cessar-fogo no Médio Oriente, uma história de investigação sobre justiça criminal e reformas e um trabalho sobre os nadadores-salvadores nas piscinas públicas. O humorista não deixou passar em branco a escolha editorial: “Uma destas coisas não bate certo, e é definitivamente o cobertor sexual da era dos nazis.”

E, se as primeiras duas entrevistas à actriz contratada por Oliver foram feitas remotamente, o cobertor sexual teve oportunidade de ir a estúdio no programa Mile High Living, em Denver, no Colorado. Nem tocando no cobertor a apresentadora conseguiu descobrir que o milagroso produto — que prometia, entre outros prodígios, renovar a flora vaginal e melhorar o rendimento sexual — era, afinal, de um cobertor normal.

Além de não ter sido difícil pôr na televisão o “véu de Vénus”, também “não foi assim tão caro”, contou John Oliver. O programa de Denver cobrou 2800 dólares (2285 euros, ao câmbio actual), enquanto o canal de Austin emitiu o conteúdo por 2650 dólares (2163€). A ABC4 do Utah foi a que ficou mais em conta: publicitou o cobertor por 1750 dólares (1428€). “A integridade das notícias locais é crucial, e é perigoso para toda a gente se essa integridade for danificada. Para os donos destes canais, que andam a vender anúncios a preços da chuva, tenho uma simples pergunta: ‘O que raio estão a fazer?’”, lamentou John Oliver, em jeito de conclusão.

Entretanto, os canais de televisão já responderam ao apelo de John Oliver e prometeram rever as políticas de emissão de conteúdo pago nos programas jornalísticos. Uma fonte da empresa detentora do KVUE, a Tegna, esclareceu que o segmento publicitário não foi emitido durante o noticiário local, mas durante o seu intervalo. “Ainda que seja um espaço comercial, foi um erro emitir o anúncio e vamos rever os nossos procedimentos, para que não aconteça novamente”, garantiu o representante, citado pelo site de notícias Deadline.

A estação de Denver, pertencente ao grupo E. W. Scripps, assegurou, também, levar “muito a sério a integridade” do conteúdo que emitem. O anúncio do “véu de Vénus”, explicam, foi emitido também durante um programa de cariz comercial. “Os nossos programas não-noticiosos são criados para ajudar negócios locais e empreendedores, que procuram novas formas de publicitar os seus produtos. Achamos que os nossos telespectadores compreendem as diferenças”, avaliaram. No entanto, prometem proceder a uma averiguação: “Vamos verificar os nossos processos de selecção para esses segmentos, para garantir que seguimos os padrões adequados”. Só a ABC4 do Utah ainda não comentou o incidente.

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