Associações acusam Metro do Porto de “imprudência e aventurismo técnico” nas obras da Linha Rosa

Quatro organizações de defesa do património e do ambiente sugerem a realização de uma nova avaliação ambiental do plano de intervenção da Metro do Porto, com carácter “realmente independente”.

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Jardim da zona da Praça da Galiza - também conhecido como Jardim de Sophia- será um dos afectados pelas obras da nova linha rosa. Paulo Pimenta

A ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais, a Campo Aberto – associação de defesa do ambiente, o Clube UNESCO da Cidade do Porto e o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro-Grupo Ecológico consideram, em comunicado, que o transplante de dez árvores no Jardim do Carregal, em vez do abate ou transplante de apenas duas que estava previsto, é um sinal de que a Metro do Porto não vai respeitar o compromisso de tudo fazer para proteger o valor patrimonial e ambiental dos diversos espaços públicos ajardinados que serão afectados pelas obras da nova Linha Rosa, que irá ligar a Casa da Música a São Bento – para além do Carregal, também o Jardim da Rotunda da Boavista e o Jardim de Sophia estão abrangidos.

Para os activistas, a APA aceitou uma avaliação ambiental “com falhas” e emitiu uma Decisão sobre a Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (Decape), que autorizou intervenções previamente recusadas e em circunstâncias repletas de “anomalias”. Deste modo, propõem uma nova avaliação dos impactos ambientais da obra que seja “realmente independente”.

O “erro de cálculo” que separa o que estava previsto no projecto do Jardim do Carregal daquilo que veio efectivamente a ser feito ao longo das últimas semanas leva estas associações a questionar a actuação da Metro do Porto: “Será simples resultado da incompetência da empresa? Ou antes, logo ao definir o traçado da linha, este foi já resultante de imprudência e aventureirismo técnico?”

A Metro do Porto assegura que o transplante foi uma medida preventiva necessária para proteger as árvores, mas as associações asseguram que “nada garante que elas sobrevivam ou que a eventual sobrevivência a curto prazo se possa manter”. E classificam mesmo a intervenção das últimas semanas, realizada por uma empresa privada e por funcionários da câmara municipal, como um verdadeiro “rolo compressor” que passou pela histórica praça contígua ao Hospital de Santo António.

A Agência Portuguesa do Ambiente e a Câmara do Porto são também acusadas de se terem “demitido há muito de conceber os projectos tendo em conta o respeito pelos valores naturais e construídos que têm por missão proteger”. As entidades públicas interpretam a lei não em função dos interesses de preservação do património histórico e ambiental da cidade, mas “a seu modo e como lhes convém”, acrescenta o comunicado.

As quatro organizações de defesa do património e do ambiente olham também para o futuro e alertam para a possibilidade de estes erros se repetirem nas intervenções previstas para os jardins da Rotunda da Boavista e da zona da Praça da Galiza. Sobre este último – também conhecido como Jardim de Sophia – insistem nas críticas ao projecto da Metro, que dizem “vandalizar” um jardim “de autor e de elevado valor estético, artístico e ecológico”. Deixam assim o apelo a um “sobressalto de consciência cívica” que impeça novos prejuízos à cidade e ao seu património.

Texto editado por Ana Fernandes

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