A Julieta partiu

A morte da Julieta levou mais um bocadinho da minha história. E cada uma das antigas vizinhas que parte crava em mim a sensação de desamparo. Porque elas eram como rochas ao longo dos anos. Sempre iguais, sempre estáveis, sempre ali.

Foto
Cristian Newman/Unsplash

Tentei ligar à minha mãe a meio da tarde porque estava desesperadamente a precisar de ajuda com uma receita de pudim de ovos. E quando a chamada foi parar à caixa de mensagens imaginei que, mais uma vez, vítima da sua crença absoluta em que os telemóveis só se devem colocar à carga depois de totalmente descarregados, a minha mãe teria ficado sem bateria enquanto fazia a sua caminhada diária. Mas menos de meia hora depois o meu telemóvel apitava com a palavra “mãe” no ecrã e, do lado de lá, um pedido de desculpas seguido de um “estava no funeral da Julieta”, num tom de voz baixo que indicava que ainda se devia encontrar dentro do cemitério (a minha mãe, não me perguntem porquê, no interior dos cemitérios fala sempre em tom sussurrado, quase como se tivesse receio que o volume habitual da sua voz pudesse perturbar o repouso dos mortos).

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