Sem mãos a medir com a pandemia, cresce uma epidemia fúngica na Índia

Os hospitais indianos vêem agora uma pressão acrescida nos recursos com a manifestação de uma infecção fúngica em doentes a recuperar da covid-19. Cinco estados já declararam uma epidemia de mucormicose, o “fungo negro” que já fez 219 vítimas mortais.

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Além da luta contra o coronavírus, a Índia lida agora com a epidemia de um "fungo negro" nos doentes em recuperação Reuters/AMIT DAVE

A Índia é palco do maior, e mais feroz, surto de coronavírus até ao momento. Enquanto continua a enfrentar uma onda crescente de infecções, que expôs várias fragilidades do país, vê-se agora com uma nova frente de batalha. Uma infecção fúngica, rara mas fatal, está a atacar os doentes em recuperação da covid-19 e já levou cinco estados indianos a declarar uma epidemia do “fungo negro”.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a epidemia está a espalhar-se rapidamente e o aumento dos casos já levou à escassez de medicamentos antifúngicos. O Conselho Indiano de Investigação Médica (ICMR) já emitiu um parecer sobre o diagnóstico e tratamento da doença. 

Até à data, “já foram reportadas mais de 7200 pessoas na Índia com mucormicose e 219 perderam a vida”, avança o jornal. Em Maharashtra, o primeiro estado a ser duramente atingido pelo surto do coronavírus, já foram reportados “mais de 1500 casos e 90 mortes, o maior valor do país”. Os hospitais em Deli também começaram a reportar um aumento sem precedentes no número de casos — de 15 a 20 novos casos por dia — em comparação com as taxas anteriores de um ou dois casos por mês. Em Deli e Bangalore, existem agora listas de espera por macas para receber tratamento da doença.

O ministro da Saúde em Deli, Satyendar Jain, disse esta sexta-feira que houve 197 casos nos hospitais da cidade, tendo sido já instaladas enfermarias específicas para tratar o fungo nos grandes hospitais governamentais para lidar com o fluxo de pacientes.

No início do mês, as autoridades sanitárias indianas alertaram para a presença da mucormicose, vulgarmente conhecida como “infecção do fungo negro” em alguns doentes com covid-19. A doença é causada por esporos de fungos encontrados no solo e matéria orgânica, geralmente inalados por humanos no ar. Depois de entrar no corpo, manifesta-se ao redor do nariz e das órbitas oculares, tornando-os negros.

Este aumento de casos, principalmente entre doentes que tiveram covid-19 grave, foi relacionado com o uso excessivo de esteróides no tratamento do coronavírus — que pode comprometer gravemente o sistema imunológico se tomado por um longo período. A permanência prolongada em unidades de cuidados intensivos, associada ao uso de ventiladores, também torna estes doentes particularmente susceptíveis, por terem as vias aéreas expostas à humidade.

Embora seja rara, a infecção pode ser fatal — apresentando uma taxa de mortalidade de 50%. Os sobreviventes podem sofrer desconfigurações faciais e até mutilações. Se a progressão da infecção não for interrompida, pode espalhar-se para o cérebro, sendo apenas tratável com uma grande cirurgia que remove o olho ou parte do crânio e da mandíbula. Além disso, pode prejudicar os pulmões quando os esporos são inalados, de acordo com uma recomendação sanitária divulgada pelo ICMR, anteriormente noticiada pelo PÚBLICO.

A alta incidência de diabetes na Índia também foi responsabilizada, estando os altos níveis de açúcar no sangue relacionados com a susceptibilidade ao fungo. Balram Bhargava, director do ICMR, disse ao jornal que “se a imunidade de uma pessoa estiver suprimida, [o fungo] irá infectá-la. Se os esporos tiverem acesso a altos níveis de açúcar, o fungo vai crescer. Vimos isso acontecer em pacientes de covid-19 com diabetes e níveis de açúcar descontrolados, ou que são imunosuprimidos ou que receberam imunossupressores”.

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