Designer Humberto Campana e Fábrica Bordallo Pinheiro lançam nova colaboração

Dora é apresentada esta sexta-feira. Serão disponibilizados 135 exemplares, todos feitos à mão, a um valor de 4500 euros cada. “Eu e o Fernando temos 35 anos de carreira, acho que é o momento de ambos termos produção individual”, conta Humberto Campana.

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Dora é o resultado da colaboração entre o designer Humberto Campana e a Fábrica Bordallo Pinheiro
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Dora estará disponível a partir de sexta-feira, por 4500 euros
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Humberto Campana, designer brasileiro: "A minha preocupação maior actualmente é a preservação ambiental"
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"Eu e o Fernando temos 35 anos de carreira, acho que é o momento de ambos terem produção individual”

Humberto Campana não esqueceu a imagem que viu há anos de um urso polar a comer lixo, perto de uma casa, na Ucrânia. Agora, numa colaboração com a Fábrica Bordallo Pinheiro, o designer e artista plástico lança uma peça inspirada nesse cenário: uma loba, com os mais variados produtos que as pessoas descartam na rua no interior da sua boca. Para os encontrar, bastou um passeio pelas Caldas da Rainha, onde se situa a Fábrica, durante o qual se deparou com cigarros, escovas e pastas de dentes, canetas e parafusos, que aproveitou como ideias para a sua obra.

“Aquilo ficou na minha cabeça. Falei: ‘Nossa! Está tudo perdido, onde chegámos’”, recorda ao PÚBLICO, em relação à fotografia que observara. A nova peça, disponível a partir desta sexta-feira, procura representar precisamente “os animais invadindo a cidade, que não têm mais espaço no campo, essa fragilização do ambiente que o homem está causando”, pode ouvir-se o seu autor dizer num vídeo de apresentação.

A loba, assinada pelo Estudio Campana, que criou em 2009 juntamente com o seu irmão Fernando, é toda ela feita de cerâmica e à mão. “Eu fiz toda essa assemblage”, explica Humberto Campana, referindo-se aos objectos visíveis na boca do animal. “Já existia o lobo, a estátua, eu fui montando, criando uma forma de ter um diálogo com a peça, colando, ilustrando”, esclarece.

A peça chamar-se-á Dora, o nome da cadela do designer, “porque tem momentos em que ela tem aquela mesma postura”, conta, motivo pelo qual se sentiu atraído pela figura. A obra terá 135 exemplares, numa homenagem aos 135 anos que a Fábrica Bordallo Pinheiro assinalou em 2019, ano em que a obra começou a ser trabalhada, mas cuja data de apresentação se atrasou devido à pandemia. Cada unidade será vendida a 4500 euros. Também a próxima peça a surgir da colaboração entre o artista e a Fábrica, um outro animal, já está em desenvolvimento.

Com esta criação, Humberto Campana junta-se à colecção WWB – WorldWide Bordallianos, da Fábrica Bordallo Pinheiro, em que já participaram personalidades como Paula Rego, Vhils e Joana Vasconcelos. “Nomes nacionais e internacionais ligados às áreas criativas das artes plásticas, do design e da moda terão a oportunidade de reinterpretar Bordallo à luz da sua própria arte e do seu próprio processo criativo”, pode ler-se na apresentação da iniciativa.

O artista faz parte da dupla brasileira de designers Irmãos Campana — ou, como são mundialmente conhecidos, Campana Brothers —, juntamente com Fernando, que tem dado que falar nas últimas décadas. O par tem obras em acervos de museus como o MoMA, em Nova Iorque, o Centro Nacional de Arte Georges Pompidou, em Paris, ou o Vitra Design Museum, na cidade alemã Weil am Rhein, e uma série de prémios como o George Nelson Design Award (1999), da revista americana Interiors Magazine, o Le Prix du Nombre d’Or (2005), do Salon du Meuble de Paris, e o primeiro lugar na Feira Internacional de Móveis de Valência (2005). No entanto, como explica o designer, “esta foi uma peça só minha”. “Eu e o Fernando temos 35 anos de carreira, acho que é o momento também de ambos termos produção individual”, justifica.

Quanto ao propósito do trabalho que realizará em nome próprio, esclarece: “a minha preocupação maior actualmente é a preservação ambiental”. A obra que apresenta esta semana é sinónimo disso mesmo. E, como alerta, “não existe ainda uma acção conjunta da humanidade e está indo tudo muito rápido, acabando tudo”. “Acho que tudo isso tem de ser revisto com muita urgência.”

Texto editado por Carla B. Ribeiro

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