Abertura do Museu de Arte Contemporânea Armando Martins em Lisboa adiada para 2022

Pandemia provocou atrasos na constituição das equipas e na resposta dos fornecedores para a adaptação ao novo uso do Palácio dos Condes da Ribeira Grande, justifica a directora do MACAM, Adelaide Ginga. Nova data apontada para “o final de Março ou início de Abril” do próximo ano.

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A abertura do Museu de Arte Contemporânea Armando Martins (MACAM), em Lisboa, com um acervo de mais de 400 obras de artistas portugueses e estrangeiros, foi adiada para o primeiro quadrimestre de 2022, confirmou esta quarta-feira fonte ligada ao projecto.

Contactada pela agência Lusa, a curadora Adelaide Ginga, convidada pelo coleccionador Armando Martins para a direcção artística do MACAM, justificou que o atraso da abertura do novo museu, prevista para o segundo semestre deste ano, deve-se “aos contratempos” provocados pela pandemia covid-19.

“O projecto está em curso, mas deu-se um atraso por causa dos atrasos que a pandemia trouxe. Impactou tudo, as equipas, os fornecedores”, justificou a curadora, acrescentando que o planeamento teve de ser alterado, porque “as respostas são menos céleres” neste contexto pandémico. De acordo com Adelaide Ginga, “ficou decidido” que a abertura do MACAM, dedicado à arte contemporânea, “acontecerá no primeiro quadrimestre de 2022, provavelmente no final de Março ou início de Abril” do próximo ano.

Em Outubro do ano passado, o coleccionador Armando Martins anunciou a abertura do museu para este ano num palácio do século XVIII, em Lisboa, integrado num projecto com um hotel de cinco estrelas, com exibição de outras obras da colecção do empresário. Na altura, a curadora, que saiu do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) com uma licença para doutoramento, confirmou que tinha sido convidada pelo coleccionador, tendo aceitado o cargo de directora do MACAM.

De acordo com Adelaide Ginga, o projecto do coleccionador e empresário do Grupo Fibeira, com actividade na promoção imobiliária, hotelaria e serviços, “continua em curso” para ocupar o Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Rua da Junqueira, em Lisboa, que se encontra ainda “em obras de adaptação”.

Colecção premiada pela ARCO - Madrid

A colecção de arte que Armando Martins tem vindo a reunir há 45 anos, e em constante actualização, foi distinguida, em 2018, com um prémio da área do coleccionismo, pela Fundação ARCO de Madrid, em Espanha. As obras desta colecção, “inseridas numa grande diversidade de linguagens, cronologias e mediuns artísticos, estão a ser estudadas, interpretadas e cuidadas para proporcionar uma experiência única na descoberta do melhor que tem sido criado pelos mais relevantes artistas do século XX e XXI”, indica um texto da página online do museu.

“Vamos começar a colocar informação nas redes sociais sobre o processo de restauro do edifício, de algumas obras de arte, e das campanhas fotográficas realizadas, para que o público possa ter já uma ideia do que está a ser feito”, apontou a curadora à Lusa.

A colecção reúne obras de artistas portugueses e estrangeiros como Paula Rego, Maria Helena Vieira da Silva, José Malhoa, Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Eduardo Viana, Pedro Cabrita Reis, Julião Sarmento, Rui Chafes, José Pedro Croft, Lourdes Castro, entre outros, indicou a directora do novo museu. Quanto a artistas estrangeiros, estão representados na colecção criadores como Gilberto Zorio, John Baldessari, Albert Oehlen, Olafur Eliasson, Marina Abramovic, Antoni Tàpies, Antonio Ballester Moreno, Juan Muñoz, Santiago Sierra, Carlos Aires, Pedro Reyes, Carlos Garaicoa, Ernesto Neto, Marepe, Rosângela Rennó, Vik Muniz e Isa Genzken.

Algumas das obras já foram cedidas para exposição em espaços museológicos como o Museu Nacional Soares dos Reis e o Museu de Serralves, no Porto, o Museu Calouste Gulbenkian, o Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia, o Museu Nacional de Arte Contemporânea e o Museu Colecção Berardo, em Lisboa, assim como o Museu Rainha Sofia, em Madrid, entre outras instituições.

A colecção foi iniciada quando Armando Martins tinha apenas 18 anos e comprou, com um amigo, um conjunto de 35 serigrafias. A aquisição da primeira pintura original só aconteceu em 1974, de um artista português, Rogério Ribeiro, e passou a ser mais intensa nos anos de 1980, particularmente de arte portuguesa contemporânea do século XX, estendendo-se depois a estrangeiros, com artistas de todos os continentes, menos a Oceania.

Embora tenha seguido o seu gosto pessoal, Armando Martins recorreu, ao longo das décadas, ao aconselhamento de curadores e galeristas como Pedro Cera e Filomena Soares, entre outros.

O novo museu será financiado totalmente com capitais privados, segundo Adelaide Ginga, e funcionará, além do hotel de cinco estrelas, com uma sala de conferências, restaurante, bar, uma loja e um espaço para apresentar eventos culturais, na área das artes performativas.

Construído no século XVIII pelo segundo marquês de Niza, ampliado e remodelado pelo primeiro marquês da Ribeira Grande, no século XIX, o Palácio Condes da Ribeira Grande possui uma fachada oitocentista, e já passou por várias modificações. Possui, porém, ainda muitos dos elementos originais do antigo palácio, como o pórtico instalado na fachada monumental de dois pisos, os jardins e a capela de Nossa Senhora do Carmo. Alvo de grandes alterações no século XX, o palácio albergou o Colégio Arriaga, o Liceu D. João de Castro e, posteriormente, o antigo Liceu e ex-Escola Secundária Rainha D. Amélia.

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