LFV e o Portugal dos pequeninos

Luís Filipe Vieira desgraça o Parlamento e os políticos que se mantêm num silêncio ensurdecedor sobre o que ali foi dito. É o Portugal dos pequeninos que ali esteve.

O esclarecedor depoimento do cidadão Luís Filipe Vieira não atinge por igual e não compro a tese de que é um insulto a todos. Sê-lo à ao bolso de qualquer contribuinte como eu, mas pouco ou nada atinge quem há mais de dez anos sabia o que estava ali. Provas, indícios, manobras e tráficos, quase tudo era público e praticamente nada enganava. Nem sequer LFV se esforçava para desmenti-lo, tal era a força do escudo protetor. O peão que virou cavalo ou bispo de um banco e cujo depoimento expôs como nenhum outro a dimensão do crime e da mediocridade da alta esfera desse e do próprio setor em Portugal. (Já lá vamos…) Mas, este depoimento acaba por ser ainda um grande elogio a muitos e muitos sócios e simpatizantes do Benfica que há largos anos querem corrê-lo do seu clube, sobretudo e até, em tempos de vitórias gordas passadas. Desengane-se, portanto, quem acha que o futebol cega por completo e a todos por igual. Parabéns a esses.  

E quem é que Luís Filipe Vieira insulta com este depoimento, para além da anterior gestão do BES? Bom, antes de mais, deveria insultar todas as outras entidades financeiras que o puseram no lugar que ocupa, como refere o próprio. Pelo seu “bom nome.” Mas o descrédito é tanto que é possível que não o vejam dessa forma. Logo de seguida, todo e qualquer empresário que não deixará de ficar incomodado com os acomodados de ontem do regime que por ali se passeiam, murmurando palavras vagas entre o “não sei, não vi, não sou.” Nada. Luís Filipe Vieira desgraça ainda o Parlamento e os políticos que se mantêm num silêncio ensurdecedor sobre o que ali foi dito. Diante daquele espetáculo de desconsideração institucional por parte de quem há muito perdeu qualquer pingo de vergonha, nem uma palavra à posteriori do presidente da República, primeiro-ministro ou do presidente da Câmara de Lisboa, que até chegaram a pertencer à comissão de honra da sua última candidatura.

É realmente aqui que se vê alguma da falta de coragem dos políticos de hoje, reféns e amedrontados pela força das massas nas redes sociais.

Quem nos vê de fora e na ausência destas reações políticas, julgaria que o próprio não preside a uma das entidades e marcas nacionais mais históricas e relevantes do país, mas antes a uma qualquer simples churrascaria recente e é ele mesmo o “Rei dos Frangos,” que através de um império falido e com a ajuda de uma série de banqueiros, lesou em muitos milhões o Benfica e o Estado, passando de dívida em dívida e crédito em crédito. É o que temos.

Não fora o próprio André Ventura um apadrinhado de Luís Filipe Vieira a todos os níveis e finalmente teria aqui a causa certeira que tanto procura para contestar o regime, as suas conivências e silêncio. Nem a resposta dada pelo ainda presidente do Benfica da não pertença às elites e da suposta perseguição, tão cara e usada por outras personagens como Isaltino Morais, Alberto João Jardim ou Sócrates em momentos chave e que até é música para os ouvidos (no pior dos sentidos) de outra suposta elite financeira, descola de toda a hipocrisia suprema deste depoimento. Ou a sensação de enquanto o ouvimos, nos relembrarmos da relevância do cargo que ocupa e o país ficar mais pequeno. Significativamente, mais pequeno.

É o Portugal dos pequeninos que ali esteve.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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