Hong Kong suspende operações do seu gabinete representativo em Taiwan, aprofundando tensões

A decisão pode vir a minar os “laços diplomáticos” já frágeis entre os dois territórios, dizem os analistas. Novo bispo de Hong Kong anuncia que vai prestar homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen.

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O novo bispo de Hong Kong, Stephen Crow, apelou à união da comunidade católica da cidade, dividida desde os protestos pró-democracia de 2019 JEROME FAVRE/EPA

O governo de Hong Kong suspendeu as suas operações no gabinete representativo em Taiwan, um sinal da escalada da tensão diplomática entre o região administrativa especial chinesa e a ilha que Pequim reivindica como sua, noticia a Reuters. O representante de Hong Kong não justificou a decisão, referindo, numa declaração, que “a suspensão não está relacionada com a situação pandémica em Taiwan”.

O governo de Taiwan respeita, mas lamenta a “decisão unilateral do governo de Hong Kong”, lê-se num comunicado do Conselho de Assuntos Internos de Taiwan, citado pela Reuters.

A tensão entre Taiwan e o governo de Hong Kong tem aumentado desde o início dos protestos pró-democracia na cidade, em 2019, e agravou-se quando a China aprovou a nova lei de segurança nacional no território, forçando muitos activistas a fugirem, alguns para Taiwan. As autoridades taiwanesas criticam a lei e abriram um gabinete na ilha para auxiliar as pessoas que abandonam Hong Kong.

Para Alexander Huang, professor de relações internacionais na Universidade de Tamkang, em Taipé, a decisão não “serve os interesses de ninguém, especialmente das pessoas de Hong Kong e Taiwan, e torna futuros laços bilaterais mais inconvenientes”, escreve a Bloomberg.

Segundo a Reuters, a fragilidade dos laços diplomáticos já se verifica entre as autoridades de ambos os territórios desde o ano passado: as autoridades taiwanesas foram avisadas que apenas renovariam os seus vistos se assinassem um documento a declarar o apoio da reivindicação de Pequim sobre Taiwan, algo Taipé rejeitou.

Lembrar Tiananmen

O recém-nomeado bispo de Hong Kong, Stephen Chow, anunciou esta terça-feira que irá rezar pelas vítimas da repressão chinesa dos protestos pró-democracia de 1989 na praça de Tiananmen, em Pequim. Se o fará em público ou não dependerá das leis da cidade, continuou.

A Igreja Católica em Hong Kong tem um papel tradicionalmente activo nas cerimónias sobre Tiananmen – proibidas na China continental. O ano passado foi a primeira vez que a vigília foi banida da cidade. As autoridades policiais justificaram a decisão com as restrições da pandemia sobre os ajuntamentos, mas dezenas de milhares de pessoas desafiaram essas ordens e juntaram-se na mesma. Espera-se que a vigília deste ano tenha o mesmo destino.

Apesar de apenas assumir funções oficialmente em Dezembro, Chow herda uma diocese polarizada entre os defensores dos direitos dos cidadãos de Hong Kong, cada vez mais limitados por Pequim, segundo a oposição – e que defende que a diocese deve ser activa nesse sentido –, e quem defende uma abordagem de menor confronto.

Também por isso, Chow apelou ao respeito pelas diferentes visões políticas. Admitiu não ter “grandes planos” sobre como unir a comunidade católica dividida, mas acredita na sua união. “Unidade não é o mesmo que uniformidade”, disse Chow numa conferência de imprensa na terça-feira. “Precisamos de respeitar a pluralidade”.

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