Poemacto chega à quinta edição e anuncia para este ano uma edição em livro

Inspirado no poema homónimo de Herberto Helder, Poemacto é um encontro de poesia e cultura que realiza esta terça-feira a quinta edição e prepara para este ano um livro com uma colectânea de novos poetas.

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Solange Pacífico num dos encontros do Poemacto DR

“Deito-me, levanto-me, penso que é enorme cantar”. É com esta frase que começa (e é também com ela que acaba) Poemacto, de Herberto Helder, o primeiro de cinco poemas do seu livro com o mesmo nome, editado em 1961. Sessenta anos passados, Poemacto passou de poema a encontro de poesia nele inspirado. E chega agora à quinta edição.

Mas é um encontro que nada tem de institucional. À semelhança de outros que têm vindo a insinuar-se nos meios urbanos, sobretudo em cidades como Lisboa, Porto ou Coimbra, este tem vindo a reunir jovens poetas, amantes de poesia e simples curiosos, que podem ali ter a sua estreia (como já sucedeu) na apresentação e leitura de poemas.

A iniciativa do primeiro Poemacto deve-se a Solange Pacífico, que até agora continua a dinamizar estes encontros. “Surgiu um bocado por acidente”, explica ela ao PÚBLICO. “Eu procurava um sítio onde me sentisse confortável para declamar a minha poesia e vi que havia muito pouca oferta em Lisboa. Numa noite, ao passear pela Bica com um amigo meu, ouvi um som de blues, começámos a segui-lo e fomos parar a um bar [na Rua de S. Paulo], o Tabernáculo, do Hernâni Miguel. Ele percebeu que eu escrevia, perguntou-me porque é que eu não declamava os meus poemas, e quando lhe expliquei a razão, desafiou-me a criar ali a casa que eu idealizava. E isso deu-me espaço.”

E assim se realizou o primeiro, em 17 de Fevereiro de 2020. “Reuni dezasseis poetas, o espaço ficou completamente cheio e houve microfone aberto”. Pouco depois chegava a pandemia e o Tabernáculo, como muitos outros bares, viu-se compelido a fechar. “Fui declamando noutros sítios, aproveitando o primeiro desconfinamento. Mas um espaço pequeno, pela dimensão que o Poemacto foi atingindo, já não era aconselhável por motivos de segurança.” Surgiu-lhe então um outro espaço lisboeta, em Marvila, o Bo Brewpub, na Fábrica Bolina, para onde o encontro se transferiu. E é lá que se realiza, esta terça-feira, a V edição, às 19h30. Além de Solange Pacífico, lá estarão também Isaac Jaló, Cristovon Colombia, Merai, Patrícia Nogueira e quem mais se lhes juntar.

“O intuito do Poemacto não é ser só um evento de poesia”, diz Solange. “É suposto ser um movimento urgente, uma luta pela poesia e também pela cultura em Portugal. Daí também o nome, que vem do livro do Herberto Helder, que teve um grande impacto na minha vida pessoal e na minha poesia. Foi quando eu percebi que o poeta experiencia a solitude. E o Poemacto surgiu por essa consciência da solidão do poeta, fechado em si, nas suas emoções, mas pelo inverso: homenageando essa solitude num espaço onde ela deixa de existir, dando palco a vozes que ainda não foram ouvidas, seja de poetas que escrevem e não conseguem expor trabalho, seja por edições independentes.”

Nascida em Setúbal, em 1994, Solange Pacífico passou a adolescência no Pinhal Novo e aos 18 anos (“quando ganhei a minha independência”) foi viver para Lisboa. Diz que começou a escrever “desde muito pequena”: “Comecei por diários, histórias e depois conheci a poesia pela biblioteca do meu irmão. O primeiro que li foi a ‘Tabacaria’, do Fernando Pessoa [‘Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.’], e desde então não parei.”

Se o desconfinamento gradual o permitir, Solange planeia organizar um Poemacto por mês. Mas não pensa ficar por aí. Nos seus planos estão, também, encontros com outros colectivos de poesia e “chegar a outras cidades do país”. O Poemacto dará também nome a um livro de poesias, de edição independente, a lançar este ano.

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