Frederico Pedreira e Dejan Tiago Stankovic entre os 13 vencedores do Prémio de Literatura da União Europeia

A lição do sonâmbulo, editado pela Companhia das Ilhas, valeu a Frederico Pedreira o prémio em Portugal e Zamalek, de Dejan Tiago Stankovic, venceu na Sérvia.

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Frederico Pedreira RG Rui Gaudencio

O escritor Frederico Pedreira foi o vencedor português do Prémio de Literatura da União Europeia, com o romance A lição do sonâmbulo, enquanto Dejan Tiago Stankovic, nascido na Sérvia, mas naturalizado português, foi o vencedor daquele país, com Zamalek.

O júri português revelou-se “muito impressionado pela qualidade” da escrita de Frederico Pedreira e pela “forma como o autor usa a ficção como uma ferramenta para a investigação autobiográfica”.

A lição do sonâmbulo, editado pela Companhia das Ilhas, é uma autobiografia romanceada, em que o autor recua até à sua infância, recriando um passado assente em memórias e imaginação. Sobre esta obra o crítico literário do PÚBLICO, Hugo Pinto Santos, escreveu: “O manejo da linguagem é uma das formas que este livro tem de se salvar de uma placidez insuportável — ‘ficava a trabalhar na minha imaginação como plantas exóticas cheias de ângulos proibidos’ (p.62); ‘a febre subsidiava-me os sonhos numa nuvem lenta e fumegante que se adensava junto ao radiador o quarto'” (p.122). 

Frederico Pedreira nasceu em 1983, publicou vários livros de prosa e de poesia, e traduziu poetas como W. B. Yeats e Louise Glück, assim como ensaios de G. K. Chesterton e George Orwell, ou romances de Dickens, Swift, Wells, Hardy e Banville, entre outros. Em 2016, venceu o Prémio INCM/Vasco Graça Moura na categoria de Ensaio, com Uma Aproximação à Estranheza.

Os outros autores portugueses que estavam nomeados para a edição deste ano do Prémio de Literatura da União Europeia eram Ana Margarida de Carvalho, com o romance O gesto que fazemos para proteger a cabeça, Isabel Rio Novo, com Rua de Paris em dia de chuva, e João Pinto Coelho, com o título Um tempo a fingir, todos publicados no ano passado.

Os restantes vencedores deste ano, anunciados esta terça-feira online, foram Tom Kuka, da Albânia, Aram Pachyan, da Arménia, Georgi Bardarov, da Bulgária, Lucie Faulerová, da República Checa, Sigrún Pálsdóttir, da Islândia, Laura Vinogradova, da Letónia, Lara Calleja, de Malta, Gerda Blees, dos Países Baixos, Dejan Tiago Stankovic, da Sérvia, Anja Mugerli, da Eslovénia, Maxim Grigoriev, da Suécia, e Amine Al Ghozzi, da Tunísia.

Dejan Tiago Stankovic, de nacionalidade sérvia, nasceu em Belgrado, mas mudou-se para Portugal em 1996 e naturalizou-se português. Actualmente vive em Lisboa e passa temporadas em Belgrado.

Traduz e escreve na sua língua materna servo-croata bem como em português e tem publicados em Portugal Contos de Lisboa, editado pela Prime Books (Estoril) e Estoril, romance de guerra, publicado pela Bookbuilders (Lisboa).

Sobre Zamalek, livro que conquistou o galardão para a Sérvia, o júri daquele país disse ter ficado “impressionado com a hábil imaginação linguística” do autor, num romance que se situa no Cairo e cujas personagens carregam diferentes destinos nacionais que dão cor ao século XX, e que “numa forma profundamente literária preocupam o leitor sérvio”.

Portugal foi um dos países seleccionados para a edição de 2021 do Prémio de Literatura da União Europeia, que em edições anteriores distinguiu Dulce Maria Cardoso, Afonso Cruz e David Machado.

O júri nacional foi constituído por José Manuel Lello, administrador da Livraria Lello, no Porto, que presidiu, e ainda pelo escritor José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, pelo escritor João de Melo, pela jornalista Isabel Lucas (colaboradora do PÚBLICO) e pelo também escritor David Machado, que venceu o prémio em 2015 com Índice Médio de Felicidade.

O Prémio de Literatura da União Europeia foi criado em 2009 pela Comissão Europeia e é financiado pelo programa Europa Criativa.

O galardão destina-se a escritores emergentes europeus, tendo como objetivo valorizar a literatura europeia e divulgá-la ao resto do mundo, assim como realçar a criatividade e a riqueza diversificada desta literatura contemporânea no campo da ficção, e promover a circulação de obras e autores.

O concurso do prémio está aberto aos 41 países actualmente abrangidos pelo programa Europa Criativa, mas como este concurso é organizado em ciclos de três anos, a cada ano a organização selecciona um conjunto de países correspondente a um terço do total de participantes. Deste modo, no final de cada ciclo trienal, todos os países e áreas linguísticas foram representados.

O primeiro ciclo de três anos foi concluído em 2009-2011, o segundo ciclo em 2012-2014, o terceiro ciclo em 2015-2017, e o quarto iniciou-se em 2019 e termina em 2021.

Logo no ano em que foi lançando, em 2009, a escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso foi uma das vencedoras do prémio com a obra Os meus sentimentos.

Seguiu-se, em 2012, Afonso Cruz, com A boneca de Kokoschka, e três anos depois, em 2015, foi a vez de David Machado, com a obra Índice médio de felicidade.

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