Criado verniz que mata bactérias em poucos minutos

Este novo verniz inteligente com elevada actividade antimicrobiana, que é activada por acção de luz branca, é inócua para o ser humano, refere a equipa de cientistas que o criou.

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Da esquerda para a direita: os investigadores Rita Branco, Arménio Serra, Paula Morais e Jorge Coelho DR

Uma equipa multidisciplinar de cientistas desenvolveu um verniz para superfícies que mata bactérias, mesmo as mais resistentes, em apenas 15 minutos, anunciou esta segunda-feira a Universidade de Coimbra (UC) num comunicado de imprensa. Trata-se de “uma solução segura e eficaz para prevenir e combater as infecções hospitalares”, assegura-se no comunicado. 

Liderada por Jorge Coelho e Paula Morais, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, a equipa contou também com a participação de investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. “Este novo verniz inteligente com elevada actividade antimicrobiana, que é activada por acção de luz branca, é inócua para o ser humano”, foi desenvolvido no âmbito do projecto de investigação SafeSurf, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

O projecto, cujos resultados já se encontram publicados na revista científica ACS Applied Materials & Interfaces, teve três fases. Primeiro, os cientistas desenvolveram e testaram uma nova geração de polímeros catiónicos com propriedades antimicrobianas contra várias espécies de bactérias. De seguida, procuraram um fotossensibilizador com actividade fotodinâmica à superfície, tendo sido utilizado um composto natural que é produzido por plantas, a curcumina. Ao combinar os polímeros catiónicos com a curcumina, os cientistas verificaram que a actividade antimicrobiana dos polímeros aumentou de forma significativa, permitindo matar um maior número de bactérias em menos tempo, como relatam no comunicado Jorge Coelho e Paula Morais.

“Quando juntámos os dois sob a acção da luz branca, verificámos que as bactérias morriam passado muito pouco tempo. As várias experiências realizadas em superfícies mostraram que, em apenas 15 minutos de exposição, estes dois compostos combinados reduziam mil vezes o número de bactérias gram-positivas e gram-negativas, como, por exemplo, da Escherichia coli. Ou seja, numa acção conjunta, os dois materiais provocam stress oxidativo nas bactérias, eliminando-as de forma eficaz e segura.”

Perante os resultados obtidos, os investigadores avançaram então para a formulação de um revestimento, relata-se no comunicado, indicando-se que, “com recurso a uma formulação industrial, desenvolveram um verniz de base poliuretano, contendo, pela primeira vez, biocidas poliméricos catiónicos combinados com um fotossensibilizador de curcumina”.

A grande inovação, segundo os coordenadores do projecto, reside no facto de se conseguir “incorporar estes dois compostos num verniz de formulação industrial de base poliuretano, utilizando condições industriais, dando ao verniz a inovação da funcionalidade antibacteriana, facilitando assim a sua introdução no mercado”. “A formulação do verniz contendo os polímeros catiónicos e o fotossensibilizador constituiu uma etapa do projecto de elevada complexidade que foi realizada pelos nossos colegas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.​”

Sabendo-se que a grande maioria das infecções surge em ambiente hospitalar, Jorge Coelho e Paula Morais salientam que “os revestimentos de superfície inteligentes que apresentam vários mecanismos de actividade antimicrobiana surgiram como uma abordagem avançada para prevenir com segurança esse tipo de infecção”. Assim, acrescentam os cientistas, este novo verniz representa “uma solução eficaz e segura para a prevenção e controlo de infecções nosocomiais [contraídas nos hospitais], uma vez que impede a proliferação das bactérias nas superfícies”.

Do ponto de vista científico, “o conceito está provado, ou seja, foi desenvolvido um verniz eficaz e completamente seguro para o ser humano”, concluem os dois investigadores, indicando que “é necessário realizar uma avaliação económica do projecto” para que esta solução possa chegar ao mercado.

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