Os desafios da chegada de um filho em plena pandemia

A distância física da figura paterna no momento das consultas e exames impossibilitou ao casal viver a gravidez na sua plenitude, aumentado a ansiedade, os medos e deixando muitas vezes o pai um pouco à margem. Este sábado assinala-se o Dia Internacional da Família.

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Nelson Garrido

A gravidez, regra geral, é um período de felicidade, em que o casal acompanha o desenvolvimento do bebé através das ecografias, do crescimento da barriga, dos primeiros movimentos e das suas reacções. Com o aumento do número de infecções por covid-19 e desconhecimento perante o comportamento da doença vs. a necessidade de proteger os mais vulneráveis, muitas foram as portas que se fecharam. E este foi um dos primeiros desafios que os casais enfrentaram, principalmente os pais de “primeira viagem”.

A distância física da figura paterna no momento das consultas e exames impossibilitou o casal de viver a gravidez na sua plenitude, aumentado a ansiedade, os medos e deixando muitas vezes o pai um pouco à margem, diminuindo a promoção da vinculação essencial para o estabelecimento de relações de qualidade.

A covid-19 potenciou ainda mais a ansiedade vivida pelos casais devido à falta de estudos sobre o seu impacto durante a gestação, a sua imprevisibilidade e a necessidade de restrição de contactos sociais. Num momento de tamanha felicidade, em que por norma nos rodeamos dos nossos e festejamos todas as descobertas, é contranatura fecharmos portas e vivermos este momento de forma solitária, muitas vezes preocupados com os que nos rodeiam. Por outro lado, os cursos de preparação para o parto que requeriam prática e proximidade ficaram suspensos, ou passaram para um formato virtual, por vezes não acessível a todos.

Outra das dificuldades sentidas pelos pais relacionou-se com o acesso aos hospitais pois até há relativamente pouco tempo a presença do acompanhante da grávida no momento do internamento e parto não foi permitida, tornando todo este processo mais assustador e solitário para ambos os membros do casal. O parto é um momento muito pessoal e vulnerável, sendo para a grávida assustador ultrapassá-lo sozinha, sem uma palavra de conforto, um abraço ou uma cara familiar. Para o acompanhante não é menos difícil, pois experimenta um sentimento de impotência por estar longe da sua família, conhecendo muitas vezes o filho apenas ao terceiro dia de vida. Passámos de um paradigma de proximidade em que se incentiva a presença do pai como elemento fundamental em todo o processo para o fechar de portas para proteger os mais vulneráveis.

Outro dos medos vividos foi o do resultado positivo à covid-19 no momento do parto com consequente afastamento da mãe e do bebé! Em alguns hospitais, pela falta de condições de alojamento conjunto que garantissem a segurança do bebé ou por protocolos hospitalares, o recém-nascido era afastado da mãe, ficando internado na neonatologia e sendo o único contacto efectuado por telemóvel. O pai também não podia visitá-lo, pois estavam ambos em isolamento por contacto directo com a mãe positiva, o que se torna uma vivência atroz para qualquer casal.

Após a chegada a casa do bebé surgem novos desafios: o dizer “não” às visitas de familiares, o acesso mais difícil aos cuidados de saúde e começo de uma nova família com a assombração da covid-19 a pairar.

Em suma, os pais enfrentaram inúmeros desafios durante este último ano. O tempo não volta atrás, o que perdemos por vezes não recuperamos, mas cabe a cada família fortalecer laços e perceber onde e a quem pode recorrer quando precisa de ajuda! Neste momento, os hospitais estão a abrir portas, a presença do acompanhante voltou a ser possível, os protocolos estão a mudar, a cada dia há mais pessoas vacinadas, o que diminui a propagação do vírus. Caminhamos para um momento de acalmia onde precisamos de recuperar o bom que “tínhamos lá atrás” e nem sempre percebíamos!

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