Cartas ao director

Eleição para o Supremo

Dentro de dias o actual presidente do Supremo Tribunal de Justiça vai atingir o limite de idade, jubilando-se. Como consequência, vai proceder-se à eleição de um novo presidente, estando já em curso a campanha entre os três concorrentes que se propõem para o cargo, conforme foi noticiado. Ora, o actual presidente da Associação Sindical de Juízes, no seu artigo do passado dia 5, no PÚBLICO, veio levantar um importante problema a propósito do tema: o do confinamento de tal eleição às quatro paredes do mais alto tribunal, quando a importância do cargo a nível de toda a esfera judiciária, a nível simbólico e mesmo a nível político, como representante do poder judiciário (é a 4.ª figura do Estado) reclamaria uma maior base e um mais exigente processo de legitimação. Acresce que o presidente do STJ é, por inerência, o presidente do Conselho Superior da Magistratura, um órgão independente com poderes de colocação, transferência e promoção dos juízes, exercendo também a acção disciplinar. Sendo assim, justificar-se-ia um outro tipo de escrutínio e debate das ideias e propostas dos candidatos com outra dimensão, em vez do carácter castrense que o acto reveste actualmente.<_o3a_p>

António Costa, Porto

Os Donos Disto Tudo

Quem assistiu à lastimosa prestação do ”self made man” Luís Filipe Vieira no Parlamento, quem assiste diariamente à captura dos prime times dos canais de televisão pelos comentadores de futebol durante horas a fio, a deputados, autarcas, magistrados e governantes e ex-governantes subservientes e trocando favores com SAD desportivas transformadas em máquinas de lavagem de dinheiro, a troco de bilhetes para jogos, viagens em jactos privados e avenças, e finalmente quando vimos o povo a manifestar-se de maneira desabrida pela vitória de um clube impunemente em Lisboa sem respeito pelas autoridades e pelas regras mínimas de confinamento, fica na dúvida afinal quem são os Donos Disto Tudo, e qual a responsabilidade de cada um de nós em deixar que isto aconteça.

Carlos Caldas

Gestão por objectivos

Segui parte dos trabalhos da Comissão de Inquérito Parlamentar do Novo Banco. Desfilaram os grandes devedores, o mais mediático dos quais Luís Filipe Vieira. Será que estes senhores são uma amostra representativa da elite empresarial portuguesa? Temo que sim! João Miguel Tavares já descreveu neste jornal estes “empresários” cujo único capital é o “prestígio” e o “nome”. O risco é por conta da banca, que financia as propostas destes prestigiados “empresários” e aceita garantias que, ao menor sinal de pânico, se transformam em tigres de papel. A começar pelo “prestigiado” aval pessoal que prestam às operações. Mas o banco não foi obrigado a assumir os riscos. A razão destes desmandos creditícios, transversais à banca nacional, chama-se gestão por objectivos, que subordina a remuneração variável e, no limite, a carreira dos colaboradores ao cumprimento de objectivos fixados de forma irrealista. Os quadros bancários passam a trabalhar doze horas por dia e o departamento de risco de cada banco é transformado em “alvo a abater”, ao invés de ser escutado atentamente. O sr. Vieira afirma que vive bem porque tem uma boa reforma e outros negócios. Reforma e partes sociais que podem ser penhoradas, pelo menos em parte. À atenção do Novo Banco.

José Pombal, Vila Nova de Gaia

Problemas sociais

Quando celebramos o dia da Europa e ao mesmo tempo somos anfitriões de uma cimeira social com pompa e circunstância, a qual reúne altos dirigentes de várias nações para debaterem estratégias de combate à pobreza e outros problemas sociais, temos ao mesmo tempo razões para duvidar das boas intenções destes eventos, quando os agentes de autoridade, que são responsáveis pela segurança destes eventos, são tratados de forma pouco digna.

A situação pandémica que estamos a viver trouxe à luz do dia algumas situações ocultas que passavam despercebidas à opinião pública e principalmente às autoridades a quem compete averiguar irregularidades, e que despoletaram acções de fiscalização e uma acção concertada de retirada de cidadãos das casas que habitavam a uma hora pouco apropriada, sendo aquela uma acção musculada como se os residentes trabalhadores fossem um bando de criminosos.

Não é aceitável que um país da União Europeia, que reúne com pompa e circunstância para debater as questões sociais, e que tem instituições vocacionadas para fiscalizar situações de incumprimento, não tenha efectivos suficientes no terreno para dar uma resposta enérgica no combate a situações de abuso e incumprimento das leis, ficando nós com a sensação de que estes eventos servem apenas para mascarar realidades ocultas que tornam a resolução dos problemas sociais utopia.

Américo Lourenço, Sines

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