Pandemia tirou 16,5 mil milhões ao turismo português em 2020

Queda da procura turística, que inclui consumo de estrangeiros e portugueses, mostra os impactos “particularmente nocivos da pandemia” sobre esta actividade económica, sublinha o INE.

Foto
Procura turística em Portugal (estrangeiros e residentes) caiu 50,4% Adriano Miranda

A procura turística em Portugal (consumo por parte de estrangeiros e residentes) caiu 50,4% para 16,3 mil milhões de euros no ano passado devido à pandemia de covid-19, o que representa uma diminuição de 16,5 mil milhões de euros para o sector. Os dados, preliminares, constam da conta satélite do turismo elaborada pelo INE e divulgada esta sexta-feira.

De acordo com o INE, estes 16,3 mil milhões ligados ao consumo de turismo no território económico (CTTE) equivaleram a 8% do PIB, quando no ano anterior esse peso chegou aos 15,3% da riqueza nacional. Este é o valor mais baixo desde 2000, o ano mais recuado para o qual o INE tem este tipo de informação.

Em termos de Valor Acrescentado Bruto gerado pelo turismo (VABGT), este “terá registado um decréscimo de 48,2%, face a 2019, em termos nominais, que compara com a redução de 4,6% do VAB da economia nacional”, refere o INE.

O VABGT representou 4,6% do VAB nacional, contra os 8,4% de 2019. “O decréscimo consideravelmente mais acentuado quer do VABGT quer do CTTE, face ao conjunto da economia portuguesa, expressou os efeitos particularmente nocivos da pandemia covid-19 sobre esta actividade económica”, sublinha o INE.

O peso dos estrangeiros

O turismo de estrangeiros foi o que provocou um maior impacto nas contas do turismo português, devido ao seu peso no total e às restrições às viagens. Segundo o INE, verificou-se “uma redução sem precedentes em 2020 da despesa do turismo receptor (exportações de turismo), diminuindo mais de 50% face ao ano anterior”.

De acordo com o INE, a redução da actividade turística terá contribuído com -5,8 p.p. para a diminuição de 7,6% do volume do PIB que se registou em 2020, “o que corresponde a mais de 3/4 da redução do PIB”. “Os produtos que mais contribuem para o PIB turístico, como os serviços de alojamento, a restauração e similares, os transportes (especialmente os transportes aéreos) e os serviços de aluguer, foram os que mais sofreram os impactos económicos da pandemia”, o que se traduziu “em reduções, em volume, entre 48% e 55% no PIB turístico gerado por estas actividades”, destaca o INE.

Antes, o Banco de Portugal já tinha dado nota de uma queda abrupta de mais de 10.000 milhões de euros das exportações de serviços de turismo. Já as importações de turismo também tiveram uma forte redução, mas abaixo das exportações. “Esta situação poderá ter-se reflectido num acréscimo de poupança dos residentes e numa diminuição menos significativa da despesa por parte dos residentes em turismo interno, provavelmente em menor grau, da despesa com outros bens e serviços”, refere a análise do INE.

Em Fevereiro, o INE divulgou que a covid-19 tinha provocado perdas de 2838 milhões de euros nos alojamentos turísticos, chegando aos 1457,3 milhões de euros (-66,1%), com a Área Metropolitana de Lisboa a sofrer o maior recuo, ao cair 76,7% para os 319,8 milhões de euros.

Primeiro trimestre com fortes quedas

Este ano, os primeiros meses continuam a ser de forte contracção da actividade turística. Em Março, de acordo com os dados também divulgados esta sexta-feira pelo INE, o sector do alojamento turístico registou 283,7 mil hóspedes e 636,1 mil dormidas, o que corresponde a variações de -59,0% e -66,5%, respectivamente. Já os proveitos desceram 73,5% para 26,4 milhões de euros. Nos primeiros três meses deste ano, as receitas foram de 77,6 milhões de euros, menos 83% face a idêntico período de 2020.

Estes dados do INE não contabilizam as unidades de alojamento local com menos de 10 camas (e que são a maioria) mas, de acordo com as informações da Confidencial Imobiliário, neste primeiro trimestre foram vendidas cerca de 6900 noites de alojamento local no Porto e 8000 em Lisboa. “Em ambos os casos, trata-se de uma descida de 70% face ao segundo trimestre de 2020, quando foi imposto o primeiro confinamento, e estabelece novos mínimos de mercado”, diz a empresa, acrescentando que a “actividade praticamente inexistente traduziu-se num volume de negócios de 431,7 mil euros no Porto e de 556,8 mil euros em Lisboa”.

No final de Abril, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, anunciou que o Governo está prestes a apresentar um “plano ambicioso” para a retoma do turismo. “Iremos identificar não só os objectivos, mas também as fontes de financiamento a que recorreremos, chegando a uma soma de todas as necessidades de financiamento e que responderão às expectativas de todos os empresários e trabalhadores do sector”, afirmou.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários