Misturar vacinas aumenta efeitos secundários como a febre

A maior parte das reacções desapareceu nas 48 horas após a imunização e com a toma de paracetamol, mas são mais frequentes quando se misturam marcas diferentes.

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Este ensaio interessa aos países que pensam administrar a segunda dose de marca diferente a quem tomou AstraZeneca na primeira STEPHANE MAHE/Reuters

Resultados preliminares de um ensaio que está a ser feito no Reino Unido mostram que tomar vacinas diferentes na primeira e na segunda dose faz aumentar os efeitos secundários nas primeiras 48 horas após a sua administração – mas estes são passageiros, e tratáveis com paracetamol.

Os casos de pessoas que se sentiram com febre depois de terem tomado a vacina chegaram a verificar-se três vezes mais nas pessoas que tomaram a AstraZeneca na primeira dose e a Pfizer-BioNtech na segunda (34% de 110 voluntários com mais de 50 anos). Só 10% das 112 pessoas que fizeram as duas doses da AstraZeneca relataram ter tido febre nas 48 horas seguintes, dizem a equipa da Universidade de Oxford num artigo na revista médica The Lancet.

Um número equivalente de voluntários – 114 pessoas – fez o esquema de toma contrário (primeiro a vacina da Pfizer-BioNtech, depois a da AstraZeneca). Neste caso, 41% sentiram-se febris após terem tomado a primeira dose da Pfizer-BioNtech e a segunda da AstraZeneca. Este efeito secundário só foi sentido por 21% das pessoas que tomaram as duas doses da Pfizer-BioNtech.

“Houve aumentos semelhantes para efeitos como arrepios, fadiga, dores de cabeça, articulares e musculares, mal-estar. Mas não houve hospitalizações devido aos sintomas”, escrevem os cientistas na Lancet. Os voluntários foram aconselhados a tomar paracetamol e a maior parte das reacções desapareceu nas 48 horas após a imunização.

“Os resultados sugerem que regimes de doses misturadas de vacinas podem resultar em faltas ao trabalho no dia a seguir à imunização, e isto é importante quando se planeia a vacinação de trabalhadores de saúde”, comentou Matthew Snape, o coordenador da equipa da Universidade de Oxford que está a fazer o ensaio clínico, iniciado em Fevereiro, citado pela Sky News.

De facto, houve um aumento no uso de paracetamol nas pessoas a quem foi administrada uma mistura de vacinas: 68 (60%) dos 114 voluntários que tomaram a Pfizer-BioNtech primeiro e a AstraZeneca na dose de reforço tiveram de usar este medicamento, enquanto só 48 (41%) dos 117 que tomaram nas duas doses a vacina da Pfizer-BioNtech tiveram de o fazer.

Entre as 110 pessoas que tomaram a vacina da AstraZeneca primeiro e depois a da Pfizer-BioNtech, 63 (57%) tiveram de usar paracetamol para combater os efeitos secundários. Apenas 40 (36%) dos 112 dos que tomaram só AstraZeneca o fizeram.

Não foram detectados quaisquer efeitos ao nível da coagulação do sangue – o motivo pelo qual muitos países, como Portugal, estão agora muito interessados no resultado desde ensaio, chamado ComCov, que neste braço do estudo incluiu 830 participantes distribuídos por quatro grupos. Querem saber se é seguro administrar uma segunda dose de outra vacina a quem tomou a primeira da AstraZeneca, que é associada a casos raros de formação de coágulos e hemorragias – um problema que é agora designado como síndrome de trombose com trombocitopenia.

“É importante que não tenham surgido sinais de preocupação ou segurança. Mas isto ainda não nos diz se a resposta imunitária será afectada”, frisou Matthew Snape, citado pela Sky News.

Estes são ainda resultados preliminares – analisou-se apenas os efeitos secundários e a segurança desta prática clínica. Em Junho devem estar disponíveis os resultados principais, dizem os investigadores. Estão também a ser comparados regimes de toma mistos com as vacinas produzidas pela Moderna e pela Novavax (esta ainda não disponível no mercado).

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