“Não sabia qual era a sensação de ver o Sporting campeão”: eles eram bebés em 2002

Manuel, Joana e André esperaram (literalmente) a vida toda por este momento. Agora, 19 anos depois, o Sporting fez-lhes a vontade e sagrou-se campeão. O sentimento era-lhes desconhecido, mas valeu a pena a espera. “Foi uma loucura”, garantem.

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Manuel Branco começa por pedir desculpa pela voz rouca e mais tarde confessa que roeu as unhas todas. Foi um dia desgastante, o de esta terça-feira, para este adepto sportinguista de 19 anos. Mas a emoção de ver o seu clube campeão pela primeira vez (vamos excluir a vitória de 2001/2002, que se assinalou quando tinha apenas seis meses) compensa os danos físicos. “Foi uma loucura”, descreve o estudante de Gestão.

Neto de sportinguista, filho de sportinguista, irmão de sportinguistas: o amor pelo clube desenvolveu-se da forma “tradicional”, ou seja, passou de geração em geração. “O meu avô é o sócio mil e pouco, talvez nem tanto”, conta. Mas arrisca-se a dizer que é “o mais louco da família”, o mais “apaixonado”. O pai e o avô “talvez se tenham conformado com a derrota e não vivem tanto”; os irmãos “vivem muito o Sporting, mas não de forma tão intensa” — e ele, apesar de ter sido estreante nos festejos, e dos muitos anos a repetir “para o ano é que é”, nunca desistiu do clube. Até que o ano chegou.

A namorada Joana Carvalho, também adepta do já sagrado campeão nacional, confirma: “Quando começámos a namorar, o Manuel dizia-me que se não fosse do Sporting não namorava comigo”, ri. Na sua família “houve alguma coisa que correu mal de geração em geração”. Misturam-se benfiquistas e sportinguistas, com os primeiros em clara vantagem numérica. “Só eu, a minha avó, a minha mãe e um tio é que somos sportinguistas. Vivemos os quatro com uma grande emoção, mas às vezes é um bocado triste não poder partilhar a minha felicidade ou tristeza com mais pessoas. Mas agora chegou o sentimento que eles têm muitas vezes”, refere a jovem de 19 anos.

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Manuel e Joana nos festejos
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Manuel Branco DR

Juntos, assistiram ao jogo frente ao Boavista. “Foi muito emocionante. Estava sempre perto de chorar”, conta Joana. Manuel relembra os nervos: “Cada bola que passava do meio-campo punha toda a gente a tremer.” Quando o golo chegou, foi “uma explosão de alegria”.

Dezanove anos depois, já podem dizer que sim, já viram o Sporting ser campeão. “Não sabia qual era a sensação e foi óptimo”, diz Joana. Mas, até lá, o sentimento foi de cautela. “Antes do jogo fomos receber a equipa a Alvalade e estava sempre a pensar: ‘Estamos aqui todos a festejar e, vai na volta, ainda não é hoje que ganhamos’”, confessa. 

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Joana Carvalho e a mãe DR

Tivesse André Freitas arranjado companhia e poderia ter-se cruzado com Joana e Manuel nos festejos no Marquês. O jovem de 22 anos, natural de Guimarães, esteve muito perto de se aventurar numa ida a Lisboa para celebrar a vitória do seu clube. “Estava ansioso pela hora do jogo. Quando cheguei a casa, liguei a televisão e vi aquela gente toda em Lisboa, deu-me vontade de ir”, conta. Acabou por ficar por Fafe, Braga e Felgueiras, onde há núcleos do Sporting — mas já tem marcada uma ida a Lisboa para o próximo sábado.

“É diferente ser do Porto ou do Benfica, dos que estão habituados a ganhar mais. Mesmo nas competições europeias, são esses que conseguem sempre mais. Lembro-me de o Sporting ter ido a uma meia-final da Liga Europa, há cerca de dez anos, e essa é a melhor lembrança que tenho do Sporting nas competições europeias”, refere.

Acreditava, contudo, que “havia de chegar a vez” do seu clube, ainda que no início da época não tivesse grande esperança. Tal como Joana e Manuel. “Levamos as coisas como ‘ok, este ano vamos ficar outra vez em terceiro ou em segundo’, mas depois a coisa foi ganhando uma projecção grande e a esperança de ganhar foi crescendo, porque sentimos que havia uma união muito grande dentro da equipa”, refere Manuel. Foi essa união, salienta, que foi instigando a esperança.

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André Freitas

“A piada do futebol é que é imprevisível. Havia sempre aquele medo de alguém nos passar à frente ou termos uma fase má e descambarmos”, diz Joana. Mas agora, depois de muitos momentos de “levar as mãos à cabeça e não querer sequer ir ao estádio”, pode voltar a chama de alguns adeptos que até acabaram por “ficar resguardados durante algum tempo”, acredita Manuel. Joana acrescenta: “Nem sabia que existiam tantos sportinguistas à minha volta.”

André também adivinha um futuro risonho para o clube. E faz uma aposta: “Vamos terminar o campeonato sem derrotas.” Além do amor pelo clube e da estreia na vitória do campeonato, há mais uma coisa que estes sportinguistas têm em comum: os três podem dizer que este ano é que foi.

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