Não foi bonita a festa, pá…

Se a festa foi “bonita” por todo o país, por toda a diáspora portuguesa e por todo o espaço lusófono, ela não foi “bonita” na capital do país. Custa a perceber como em Portugal se insiste tanto em contrariar o óbvio.

Costumamos dizer (meio a brincar, meio a sério) que ser do Sporting Clube de Portugal é muito mais do que pertencer a um clube desportivo. Muito mais do que isso, é pertencer a uma “escola filosófica” que nos ensina a resistir a todas as contrariedades da (má) sorte. Uma espécie de “existencialismo metafísico” que nos leva a aceitar o destino de Sísifo com um sorriso nos lábios.

Não sendo uma “escola filosófica” que professe o masoquismo, uma vitória, de vez em quando, sabe sempre bem. E por isso também nós ficámos satisfeitos com a vitória deste ano, ainda que até ao último minuto do jogo tivéssemos temido mais um desabamento da “pedra de Sísifo” – um clássico, ano após ano.

Ficámos também particularmente satisfeitos por verificar que, não obstante a míngua de vitórias, este é um clube que mantém uma legião de adeptos que se estende não apenas por todo o país, como por toda a diáspora portuguesa e, ainda mais, por todo o espaço lusófono. Mesmo sabendo que em Portugal há quem não aprecie o facto, a verdade é que o mesmo não acontece, de todo, com equipas francesas no espaço francófono, ou equipas inglesas no espaço anglófono, ou equipas espanholas no espaço hispanófono…

Já para não falar das selecções. A forma como por todo o espaço lusófono foi, por exemplo, festejada a conquista do Europeu de Futebol, em 2016, não teve, de facto, qualquer paralelo em outros espaços linguísticos. Mesmo sabendo que em Portugal há quem continue a desprezar esse facto, a verdade é que a escala e a dimensão desses festejos foi, por si só, prova de que, não obstante o pouco empenhamento político (não só de Portugal) na CPLP –​ Comunidade dos Países de Língua Portugal, “a Lusofonia existe”.

Regressando à festa deste ano: se ela foi, pois, “bonita” por todo o país, por toda a diáspora portuguesa e por todo o espaço lusófono, ela não foi, porém, “bonita” na capital do país. Custa a perceber como em Portugal se insiste tanto em contrariar o óbvio. Face ao massivo ajuntamento de pessoas junto do estádio antes do jogo começar, a ordem das autoridades deveria ter sido a de abrir as portas do estádio. E toda a festa, a seguir ao jogo, deveria ter decorrido aí (nas bancadas e no relvado). Ao invés de termos visto um autocarro a desfilar pela cidade com dezenas de milhares de pessoas concentradas por barreiras metálicas (e até por balas de borracha…). Até Sísifo teria, decerto, considerado um absurdo.

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