Chanceler da Áustria investigado por unidade anticorrupção

Em causa estão afirmações de Sebastian Kurz a uma comissão de inquérito sobre o famoso “vídeo de Ibiza”.

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Sebastian Kurz numa conferência de imprensa sobre a covid-19 em VIena LISI NIESNER/Reuters

Procuradores de uma unidade anticorrupção estão a investigar o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, por um possível falso testemunho prestado a uma comissão parlamentar que investigava o chamado vídeo de Ibiza, que envolveu o seu vice-chanceler e parceiro de coligação e fez cair o governo em 2019.

A comissão analisava potenciais casos de corrupção na coligação entre o partido conservador de Kurz e o partido de extrema-direita FPÖ, que caiu após a divulgação de um vídeo em que o então vice-chanceler e líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache, em que este oferecia contratos públicos a uma pessoa que pensava ser sobrinha de um oligarca russo, numa casa em Ibiza.

O vídeo foi gravado em 2017, ou seja, antes da chegada do FPÖ ao Governo. Strache reuniu-se com a alegada sobrinha do oligarca discutindo, em linguagem colorida, modos de ganhar influência nos media (ela compraria uma parte maioritária do maior tablóide austríaco onde conseguiria cobertura favorável para o partido), falando de pessoas “com muita massa” e referindo-se a jornalistas como “prostitutas”.

Strache disse que estava alcoolizado (o que parecia ser verdade) e que não estava a falar a sério. 

O vídeo deixou expostos vários potenciais ângulos de investigação, incluindo em relação ao modo como são feitas nomeações para empresas públicas. Na investigação levada a cabo por uma comissão parlamentar, a oposição disse que Kurz e o seu partido não cooperaram totalmente com o inquérito.

Kurz negou a acusação. “Sabia que havia uma exigência legal de que fosse dita a verdade na comissão, e por isso claro que respondi sempre com a verdade”, declarou Kurz numa conferência de imprensa depois de ser anunciado que tanto ele como o seu chefe de gabinete estavam sob investigação.

As perguntas, acrescentou, eram sobre acontecimentos que se passaram já há alguns anos e, acusou, foram uma tentativa de o apanhar em falso. Se a investigação resultar em acusação, e se for condenado, o chanceler arrisca uma pena de até três anos de prisão.

Kurz e o seu partido são os primeiros nas sondagens na Áustria, mas a investigação ao próprio chanceler é um novo revés depois de ter sido aberta uma investigação ao seu aliado próximo, o ministro das Finanças, Gernot Blümel. Blümel é suspeito de suborno envolvendo uma empresa de jogos que lhe pediu ajuda com impostos estrangeiros.

Essa empresa, chamada Novomatic, foi mencionada por Strache no vídeo de Ibiza. Mais tarde, o político pediu desculpa à empresa e disse que os seus comentários gravados no vídeo eram falsos.

A comissão investigou a nomeação, em 2019, do conservador Thomas Schmid para director executivo da OBAG, empresa que faz a gestão da participação austríaca em empresas incluindo a petrolífera OMV. Mensagens de texto examinadas pela comissão incluíam uma em que Kurz dizia a Schmid, antes da nomeação, que ele poderia ter “tudo o que quisesse”.

A divisão de Assuntos Económicos e Corrupção do Ministério Público confirmou que está a decorrer uma investigação a Kurz. Essa investigação “diz respeito à alegação de uma declaração falsa feita perante a comissão de inquérito sobre Ibiza ligada à OBAG”, disse um porta-voz.

O jornal Der Standard disse que a investigação vai verificar se Kurz discutiu a nomeação de Schmid antes, e se o chanceler esteve envolvido na selecção de membros para o conselho de supervisão da empresa – na comissão, Kurz negou ambas.

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