Estudo alerta para incumprimento da Convenção sobre a Diversidade Biológica por países ricos

Esta investigação analisou as principais causas da perda de biodiversidade e concluiu que é necessária uma “reorganização urgente” da economia global pós-pandemia da covid-19.

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Esforços de conservação no Quénia têm sido dificultados por questões económicas, o que contribuiu para o declínio dos rinocerontes, avisam cientistas Patrick Bigger/Universidade de Lancaster

Os países mais ricos subscritores da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) apenas cumpriram 58% das obrigações de financiamento das medidas previstas nesse tratado internacional, revela um estudo sobre a perda da biodiversidade divulgado esta quarta-feira.

“Nos quase 30 anos desde a formalização da CDB em 1992, os signatários do ‘mundo rico’ pagaram apenas cerca de metade (58%) do que prometeram, enquanto prosseguem as suas agendas económicas que contribuem para, ou mesmo aprofundam, as causas da perda de biodiversidade”, adverte a investigação desenvolvida pelas universidades de Lancaster (Reino Unido), da Colúmbia Britânica (Canadá) e de Duke (Estados Unidos). Disponibilizado esta quarta-feira, o estudo pode ser consultado aqui.

A investigação dedicou-se a analisar as principais causas da perda de biodiversidade mundial e concluiu que é necessária uma “reorganização urgente e profunda” da economia global pós-pandemia da covid-19 para evitar mais danos ambientais. O estudo das três instituições teve como ponto de partida os compromissos assumidos na CDB, de que Portugal também é um dos signatários, um tratado internacional sob a égide das Nações Unidas com o objectivo de promover a sustentabilidade da biodiversidade e partilhar os seus benefícios de forma equitativa.

“Esta investigação mostra que não apenas são necessários mais recursos financeiros para conter a crise da perda de biodiversidade como também é necessário repensar amplamente como as regras da economia que estão a conduzir a essa extinção”, adiantou, citada num comunicado da Universidade de Lancaster, Jessica Dempsey, da Universidade da Colúmbia Britânica e uma das investigadoras principais do estudo.

Os autores do trabalho consideram que a pandemia da covid-19 constitui, assim, o momento para repensar a estruturação económica mundial e apresentam várias recomendações às 196 nações e organizações subscritoras da CBD para evitar o “esgotamento da biodiversidade”. Entre estas recomendações consta a penalização das indústrias que danificam a biodiversidade, a garantia do financiamento para as mudanças transformadoras e cumprimento dos objectivos da CDB e redução das desigualdades entre países que impedem o uso sustentável dos recursos naturais.

“Este estudo mostrou que o financiamento é muitas vezes canalizado para projectos ineficazes, não comprovados ou totalmente contraproducentes. Muitos desses projectos são baseados nas chamadas finanças combinadas, que acabam por apoiar organizações privadas com fins lucrativos, em vez de ajudar directamente países com ecossistemas frágeis e as pessoas que os protegem e dependem deles”, salientou Patrick Bigger, da Universidade de Lancaster.

A CDB foi assinada por diversos líderes na Conferência do Rio de Janeiro em 1992 e tem como objectivos a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável dos seus componentes e a partilha justa e equitativa dos benefícios que advêm da utilização dos recursos genéticos. Este tratado reconheceu, pela primeira vez no direito internacional, que a conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum da humanidade. Além disso, a CDB é juridicamente vinculativa, o que faz com que os países subscritores sejam obrigados a aplicar as suas disposições.

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