O regresso dos pelotões de fuzilamento

A pena de morte a tiro, por enforcamento, na cadeira elétrica, na câmara de gás ou por injeção letal é uma monstruosidade. E os países que aplicam a pena de morte não são os que têm menor criminalidade violenta, antes pelo contrário.

Os pelotões de fuzilamento estão de volta no estado da Carolina da Sul, após a aprovação nas duas câmaras do Congresso estatal.

A ideia do regresso ao tempo dos pelotões de fuzilamento é de um senador do Partido Democrata, Dick Harpootlian, que surgiu como resposta ao boicote das farmacêuticas em fornecer os “medicamentos” (leia-se venenos) para a injeção letal. Naquele estado, os condenados à morte podiam escolher entre a injeção com o veneno ou esturricar na cadeira elétrica.

As autoridades estavam a ficar inquietas, pois os condenados pediam a injeção letal que não havia. Para acabar com esta situação foi aprovado o regresso dos pelotões de fuzilamento, caso o condenado não queira arder na cadeira elétrica.

Para o Senador do Partido Democrático foi uma decisão humanitária...” Não estamos aqui para nos vingarmos, nem para infligir dor. Estamos aqui para cumprir a sentença de morte, e esta parece ser a forma menos bárbara de o fazer. Para o senador não se trata de infligir dor, nem vingança; apenas a escolha entre as balas ou queimado até rebentar na cadeira elétrica.

Não há dor, segundo o senador. Que haverá então? Ser atingido pelas balas não causa dor? Acresce que talvez a dor maior tome o prisioneiro a partir do momento que sabe que irá ser executado.

O senador envolto num tão elevado espírito humanitário coloca o dedo na ferida quando afirma acerca do pelotão de fuzilamento: “Esta parece ser a forma menos bárbara de o fazer.” Assume que a forma de executar através do recurso ao pelotão de fuzilamento é tão só a menos bárbara.

Trata-se assim de assumir que naquele país federado os Estados podem optar por soluções bárbaras (umas mais, outras menos) para combater a criminalidade, sendo que essa pena não tem contribuído para a diminuição da violência, como é do conhecimento geral.

Quando o Estado torna banal (ao executar) a morte, o que acontece é que, em certa medida, a replica por parte dos criminosos. Não se está a defender que é o Estado responsável pela violência, mas apenas que a sua execução não é dissuasora.

Os países que aplicam a pena de morte não são os que têm menor criminalidade violenta, antes pelo contrário. Nesse sentido o castigo máximo, seja qual for o método utilizado, encerra algumas conclusões. O Estado ao executar o sujeito criminoso pratica uma espécie de vingança para supostamente proteger a sociedade, quando tinha à mão outros meios, desde logo a prisão vitalícia.

A execução é muitas vezes alimentada por um coro de pedidos vingativos de familiares das vítimas ou outros, como se a justiça fosse tribal, em que os seus parâmetros se enquadram nesse tipo de sentimentos em que os valores prevalecentes a proteger parecem exclusivamente ser os dos familiares. A vingança é um sentimento negativo e, portanto, um Estado que o perfilha difunde de sentimentos negativos.

Sendo um país muito religioso, que Deus lhes recomenda matar outros seres, irmãos na criação desse Deus?

A pena de morte a tiro, por enforcamento, na cadeira elétrica, na câmara de gás ou por injeção letal é uma monstruosidade. Só um Estado com elementos de pura barbaridade sai a correr em busca de pelotões de fuzilamento para tirar a vida aos condenados.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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